Numa análise rápida às maiores diferenças destes últimos 30 anos, diria que, na minha opinião, o denominador comum é a revolução tecnológica. Esta veio mudar completamente o paradigma da educação e do seu acesso, da perspetiva da família, pois a literacia digital difundiu-se globalmente. Mas quais foram os perigos e as oportunidades que nos trouxe?
Nos anos 90, o acesso aos computadores e à Internet era escasso, mesmo nas escolas. Os livros, o quadro negro e as enciclopédias eram os recursos de que alunos e professores dispunham. A maior parte das interações sociais davam-se dentro dos portões da escola, entre brincadeiras em grupo e conversas cara a cara. Os desafios e os perigos eram mais circunscritos ao ambiente escolar e os pais tinham maior controlo sobre os ambientes que os filhos frequentavam. Raros eram os que tinham telemóveis ou computadores pessoais. Com uma vida escolar muito focada no desempenho académico, a preocupação com a saúde mental dos alunos era incipiente ou inexistente, não havendo palco para a discussão de temas como a sexualidade, inclusão social e de género, perturbações mentais ou a cidadania. Atualmente, muitas coisas mudaram para melhor, mas outras deixam-nos reticentes. É um facto que hoje os pais já não conseguem ter o mesmo controlo que tinham sobre os ambientes em que os filhos se movimentam, quer física, ou digitalmente; o mundo tornou-se num “calhau grande demais para estes grãozinhos de areia despreparados”. Porventura, estas serão algumas das maiores preocupações dos pais e educadores de “hoje”: o que veem os nossos filhos? O que comentam? O que pesquisam? Quem os segue? Quem fala com eles? Já não podemos viver sem a tecnologia, usamo-la todos os dias, todo o dia, seja em trabalho, no lazer, na escola, em hobbies… não há forma de controlar as várias plataformas que vão aparecendo, os jogos, as redes sociais etc. Não podemos e, a esta altura honestamente não queremos, parar este comboio, mas o que podemos (e devemos) fazer para proteger os nossos filhos de uma má experiência e/ou utilização?
A ansiedade do regresso às aulas, a impaciência por rever amigos, a curiosidade por descobrir o que mudou no espaço escolar, são iguais às dos nossos tempos de escola, porém, esta escola, esta sociedade e, por conseguinte, estas crianças e jovens estão expostos a perigos diferentes e o papel dos adultos cuidadores é protegê-los e prepará-los para o mundo lá fora. Para mim, CRESCER rima com… PODER! Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Susana Martins Figueiras Referências: -Carvalho A., Almeida C., Amann G., Leal P., Marta F., Moita M., Pereira F., Ladeiras L., Lima R., Lopes I. Saúde Mental em Saúde Escolar. Manual para a Promoção de Aprendizagens Socioemocionais em Meio Escolar. Lisboa, 2016. (*DGS, IPS/ESS, PV, DGE). -APAV. Crianças e jovens vítimas de violência: compreender, intervir e prevenir. 2011. -Service national de la jeunesse. Os écrans em família. Gerir, educar e acompanhar. 2021. Comments are closed.
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