As emoções podem ser entendidas como radares incorporados ultrassensíveis, que nos permitem ler o mundo à nossa volta de forma automática e dar rapidamente uma resposta adequada à situação. Certamente, seria no mínimo perigoso se, ao vermos um carro avançar velozmente, não agíssemos prontamente com cautela, mantendo-nos seguros no passeio.
A experiência emocional engloba sintomas físicos, pensamentos e comportamentos. Por exemplo, na situação anterior é provável que o medo do carro a alta velocidade faça o nosso batimento cardíaco acelerar, que tenhamos pensamentos como «aquele carro está a aproximar-se rapidamente» e decidamos manter-nos no passeio. É desejável e protetor que todo este raciocínio ocorra tão rapidamente que, instantaneamente, o nosso corpo estará pronto para dar resposta à situação – seja enfrentando-a ou fugindo dela. Para além de nos motivarem a agir e, assim, assegurarem a nossa sobrevivência, as emoções são também conhecidas por facilitarem as nossas interações sociais, cumprindo um papel comunicativo – a tristeza, por exemplo, comunica aos outros que não estamos bem, o que nos permite obter suporte, aproximarmo-nos e ligarmo-nos aos outros. Por outro lado, reforçam a memória e a formação de recordações. A forma como lemos e interagimos com os nossos estados emocionais é, à semelhança de outras aprendizagens realizadas ao longo da nossa vida, influenciada pelas nossas experiências. Enquanto crianças, iniciamos a aprendizagem sobre as emoções, observando como os adultos se relacionam com elas e como reagem às nossas próprias manifestações emocionais. Ao longo do nosso crescimento, o desenvolvimento de uma atitude recetiva e acolhedora face às experiências emocionais será tanto mais facilitado quanto o nosso contexto seja promotor do diálogo aberto sobre emoções e da sua experiência, inevitavelmente, subjetiva. Desenvolver competências de regulação emocional é uma tarefa que podemos e devemos trabalhar em qualquer fase da nossa vida. Inclusive, a Organização Mundial de Saúde (World Health Organization, 2022) destacou a competência emocional como um fator protetor da nossa saúde mental e uma meta-análise de 47 estudos demonstrou que a regulação emocional está associada a indicadores positivos de saúde mental. A regulação emocional consiste na capacidade de controlarmos as nossas respostas emocionais, de forma a funcionarmos equilibrada e adaptativamente. Não prevê a repressão, mas sim a experiência, consciência e nomeação das emoções, assim como a escolha de estratégias adequadas, que permitam o controlo das suas manifestações. Tal como há espaço para tudo na vida, há também espaço para todas as emoções e para as suas nuances: para a alegria e para o sofrimento, para a tranquilidade e para a raiva, para a desilusão e para a realização. Mesmo as que se fazem sentir mais desagradáveis são necessárias e recomendáveis à experiência de se ser pessoa. É nosso dever acolhê-las e escutá-las para melhor compreendermos o que desencadeou a ativação do nosso radar emocional e… finalmente reconciliarmo-nos com as emoções, que constituem a mais valiosa das heranças. Ver também: - Emoções: para que vos quero? Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós ManifestaMente, Daniela Silveira Referências: -Silva, A. N. (2019). Regulação emocional. In D. D. Neto & T. M. Baptista (Eds.), Psicoterapias cognitivo comportamentais: Volume 1 – Intervenções Clínicas (pp. 185- 229). Edições Sílabo. -Hu T., Zhang, D., Wang, J., Mistry, R., Ran, G, & Wang, X. (2014). Relation between emotion regulation and mental health: A meta-analysis review. Psychological Reports, 114(2), 341-362. https://doi.org/10.2466/03.20.PR0.114k22w4 -World Human Organization. (2022, 17 de junho). Mental health. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/mental-health-strengthening-our- Comments are closed.
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