A ansiedade, depressão e burnout são exemplos de doenças mentais que afetam as emoções, pensamentos e comportamentos dos indivíduos. Impactam o seu quotidiano e interação social, não escolhem idades e estratos sociais e são incapacitantes.
A preocupação com a saúde mental está bem patente, tendo os Estados-Membro da Organização Mundial de Saúde assinado inclusivamente o Plano Integral de Saúde Mental 2013-2030, que estabelece um conjunto de metas para transformar a saúde mental. Afinal, não existe saúde sem saúde mental! É igualmente demonstrado que a prevalência de doenças mentais aumentou significativamente desde a pandemia de Covid-19, sendo que o acesso a cuidados de saúde nem sempre é facilitado. Uma sociedade em constante atualização tem igualmente o dever de renovar e adaptar os cuidados de saúde mental, nomeadamente através da inteligência artificial. Esta ferramenta pertence ao campo da computação e utiliza técnicas (algoritmos) para extrair informação e conhecimento de um grande número de base de dados, de modo a gerar programas que são concebidos para realizar tarefas humanas, como aprender, resolver problemas e tomar decisões. Ou seja, trata-se de replicar a inteligência humana, de modo autónomo. No campo da prevenção, a análise de padrões de pensamento, comportamento, estilo de vida e históricos, permitem identificar sinais de alerta orientadores de diagnóstico e intervenção atempada. A utilização de modelos matemáticos e algoritmos, que leem uma maior quantidade de dados em menos tempo, em conjugação com registos médicos, análise de padrões de comportamento e historial familiar, conduz a diagnósticos mais precisos e minimiza a sobrecarga dos sistemas de triagem em saúde. Reduz ainda os esforços dos terapeutas em tarefas que podem ser automatizadas, levando a uma maior disponibilidade temporal e de recursos no atendimento a pacientes. A Inteligência Artificial Generativa analisa padrões de comunicação, para identificar, por exemplo, o risco de suicídio, assim como expressões faciais no desbloqueio de telemóveis, para detetar eventuais sinais de depressão. Esta tendência para a intervenção da IA em saúde mental conduziu ao desenvolvimento de equipamentos de realidade virtual e chatbots, que funcionam como psicoterapeutas virtuais, do qual um exemplo divulgado pela Organização Mundial de Saúde é Sarah (WHO - Sarah - Digital Health Worker) . Esta recorre à psicoterapia cognitiva-comportamental, corrente comprovada, para identificar pensamentos negativos e levar à aprendizagem de competências para lidar com os mesmos, bem como modificar os comportamentos em causa. Existem também aplicações em que os pacientes efetuam registos entre consultas, o que facilita a monitorização do progresso clínico, pelo terapeuta e pelo paciente. A análise desses padrões de resposta permite um ajuste personalizado da intervenção terapêutica e das técnicas a aplicar às características individuais do paciente, aumentando a eficiência da terapia. Os chatbots não implicam deslocações e estão amplamente disponíveis, dissolvendo alguns obstáculos do recurso à terapia , como dificuldades financeiras e o estigma associado. Assim, a sua utilização tem demonstrado que estes podem realmente reduzir sintomas de ansiedade e depressão, a curto prazo…mas trará a inteligência artificial apenas benefícios? Por um lado, o ser humano é único e os algoritmos tendem a não considerar, ainda, algumas nuances do diagnóstico e julgamento clínico, bem como a importância das componentes emoção e interação humana. Por outro lado, o facto de os algoritmos recorrerem a sistemas construídos por humanos, não sendo por isso livres de enviesamentos, dificulta decisões justas. Logo a resposta é não, a IA não traz apenas benefícios. Para além disso, urge a necessidade de regulamentação específica face a questões como a proteção de dados, confidencialidade e anonimato na partilha de informação e dependência deste tipo de ferramentas, no sentido de minimizar dilemas éticos e riscos de saúde pública. Assim, a Inteligência artificial assume-se como uma revolução potencial dos cuidados em saúde mental, não substituindo o potencial humano, mas sim aliando-se a este, em prol do bem-estar do paciente, envolvimento e responsividade do terapeuta e eficácia da terapia. Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Nadine Amaro Referências: - Li, H., Zhang, R., Lee, YC. et al. Systematic review and meta-analysis of AI-based conversational agents for promoting mental health and well-being. npj Digit. Med. 6, 236 (2023). https://doi.org/10.1038/s41746-023-00979-5. - Ordem dos Psicólogos Portugueses (2023). O fator humano na inteligência artificial – Recomendações Estratégicas para a Sustentabilidade. Lisbo. Link opp_ofactorhumanonainteligenciaartificial.pdf (ordemdospsicologos.pt). - World Health Organization (2022). World mental health report: Transforming mental health for all. Link World mental health report: Transforming mental health for all (who.int). - World Health Organization (s.d.). S.A.R.A.H, a Smart AI Resource Assistant for Health. Link https://www.who.int/campaigns/s-a-r-a-h. Os comentários estão fechados.
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