A adolescência pode ser tramada. Nesta fase acontecem mudanças profundas, não só físicas como também na maneira de estar, comportar, sentir e ver o mundo.
A adolescência é uma fase de construção da autonomia, exploração da intimidade e desenvolvimento da identidade, na qual há uma grande necessidade de interação social e procura de sentimento de pertença. As plataformas digitais fazem parte da nossa vida e é impossível imaginarmo-nos sem elas. A cultura do like impõe-se atualmente como uma forma de validação através do olhar do outro. A sistemática propagação de imagens de beleza idealizada interfere com a imagem corporal de todos, em particular da/o adolescente, que ainda está a construir a sua personalidade nesta fase crucial de desenvolvimento. 90% dos jovens consideram que já foi exposto a conteúdos de beleza tóxicos, 45% considera que observou conteúdos que incentivam comportamentos de restrição ou distúrbio alimentar e 70% considera que consumiu informações que incentivam a utilização de filtros nas suas fotografias e vídeos. Esta ideia de beleza e estilos de vida perfeitos não corresponde à realidade. Mas perante a avalanche de conteúdos deste género, cada vez mais profissionalizados, com que somos invadidos, pode ser difícil distinguir o que é real do que é fabricado e desencadear sentimentos de frustração e vergonha em todos nós. A evidência sugere que as próprias características da comunicação online encorajam cada vez mais a partilha de informações pessoais, de forma pouco segura. A comunicação online é um tipo de comunicação assíncrona, não presencial, com ausência de comunicação não-verbal, e estas características podem estar a fazer com que as pessoas tenham menos cuidado e atenção na forma como falam umas com as outras. As plataformas digitais permitem aceder a uma quantidade incalculável de informação e conteúdos, muitos deles podendo ser impróprios, cruéis e violentos. Dois em cada cinco jovens reconhecem que as redes sociais têm impacto negativo na sua saúde mental “muito por culpa dos conteúdos tóxicos a que assistem”. E apesar das redes sociais e outras plataformas digitais possuírem mecanismos de controlo de conteúdos impróprios, frequentemente estes acabam por ser difundidos. Vale a pena acrescentar que, atualmente, assistimos a uma progressiva banalização da violência, com a difusão de conteúdos cada vez mais violentos, até em vários meios de comunicação como a televisão. Contudo, as plataformas digitais são também uma oportunidade, pois revelam-se fundamentais nas interações sociais e procura de informação nos dias de hoje. Não é útil rejeitar as plataformas digitais, pois a tecnologia e o mundo digital são realidades inescapáveis, e como já vimos, podem mesmo trazer benefícios em várias dimensões da nossa vida. O que é fundamental é promover uma utilização consciente e responsável das plataformas digitais, definindo limites para a sua utilização, procurando mantermo-nos a par dos riscos e perigos, assim como implementar as medidas que podem tornar a sua utilização mais segura. Em números
Em Portugal, estima-se que cerca de 8,58 milhões de habitantes sejam utilizadores online (o equivalente a cerca de 86% da população total). Em 2023, 89% dos agregados familiares tinham acesso à internet. Portugal apresenta uma média de tempo online de 6 horas e 38 minutos, sendo que mais de 2 horas são passadas em redes sociais (INE, 2019).
Os jovens entre os 15 e os 24 anos são a faixa etária com a maior percentagem de consumo, sendo o género masculino (83,6%) ligeiramente mais elevado do que o feminino (81,2%). 97% dos jovens recorrem à internet para aceder a redes sociais, sendo que 35% afirmaram ter iniciado a sua utilização antes dos 10 anos de idade (SICAD, 2021). Um estudo realizado em 2022 pela HBSC/OMS, apurou que 64,5% dos/as jovens dos 11 aos 19 anos usam o telemóvel “várias horas por dia”. Estas/es jovens estabelecem contactos essencialmente com amigos/as (62,4%). A utilização das tecnologias digitais é feita, mais de duas horas por dia (durante a semana/fim-de-semana), para partilhar ou consultar conteúdos no Tiktok (43,1%/43,1%), trocar mensagens no Whatsapp (38,8%/38,2%) e partilhar e consultar conteúdos no Instagram (37,1%/39%). O género feminino refere uma maior dependência na utilização das redes sociais, em todos os parâmetros. As pessoas jovens referem que usam as redes sociais para fugir a sentimentos negativos (47,6%). Em particular as mais velhas (10º ano de escolaridade) utilizam frequentemente as redes sociais para fugir de sentimentos negativos, negligenciando regularmente outras atividades (ex.: hobbies) (HBSC, 2022). Ler também
O que é que as redes sociais me estão a fazer?
Orientações para usar o digital sem me passar! Como proteger a minha saúde mental nas redes sociais? Como falar de redes sociais e internet com uma pessoa adulta? Cyberbullying existe e eu vejo-o todos os dias Não consigo parar o scroll Quero um corpo perfeito A nossa Saúde Mental enquanto jovens A minha saúde mental: Manter, melhorar, prevenir O que está a acontecer no meu cérebro na adolescência? Estes conteúdos foram produzidos pela equipa multidisciplinar da ManifestaMente em Abril de 2025, no âmbito do Kit Básico de Saúde Mental para Jovens - saber mais.
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