A misoginia é o ódio, preconceito ou desprezo por mulheres e meninas. A misoginia pode manifestar-se de várias formas, como exclusão social, discriminação e objectificação sexual, hostilidade, depreciação e violência contra as mulheres e ainda ideias de privilégio masculino. Nos últimos 15 anos, no mundo digital, tem surgido uma comunidade composta exclusivamente por rapazes e homens (“manosfera”), unidos na crença fundamental de que as mulheres são inferiores aos homens e devem ser suas subordinadas. As mulheres são frequentemente descritas de forma depreciativa, como sendo inerentemente ilógicas, egoístas, gananciosas e manipuladoras e estas atribuições são usadas para justificar comportamentos de assédio, controlo coercivo e comportamentos discriminatórios. Vários influencers desta comunidade sugerem que as mulheres pertencem “à cozinha” e devem manter-se ao serviço dos seus parceiros masculinos. Outros fazem campanha para restringir o direito ao voto apenas aos homens, ou ainda defendem explicitamente a violência contra mulheres. Estas comunidades têm cada vez mais um componente político e frequentemente apoiam políticos de extrema-direita. Alguns emojis são usados como referência a esta visão extrema de política de género, como o comprimido vermelho (💊), dinamite (💥) ou 100% (💯). Até recentemente, este movimento era um problema oculto. Embora alguns influencers tenham ganho grande notoriedade, muitos outros não interagem com os canais de notícias tradicionais. Como resultado, a escala da “manosfera” pode ser subestimada por muitos adultos, a menos que tenham contato frequente com adolescentes e jovens. Esses jovens são regularmente expostos a estes conteúdos, em redes sociais, como Reddit, TikTok e YouTube. Algoritmos desenhados para privilegiar opiniões controversas e reforçar a oferta de conteúdos sobre temas já consumidos, combinados com sistemas para bloquear comentários desfavoráveis, criam bolhas de eco, nas quais os indivíduos são expostos a uma visão de mundo cada vez mais homogénea e polarizada. Jovens com baixa autoestima, e sem a orientação adequada, podem encontrar nestes grupos o acolhimento que não encontram noutros contextos na vida offline, com consequências devastadoras. A exclusão social e discriminação das mulheres tem estado presente ao longo da História, na maioria das culturas. A título de exemplo, podemos referir que em Portugal, apenas após a revolução do 25 de Abril de 1974 é que as mulheres puderam exercer o seu direito de voto em iguais circunstâncias aos homens. Atualmente, em Portugal, ainda existem diferenças importantes entre sexos, no que diz respeito ao acesso e às igualdades no mercado de trabalho, por exemplo. Noutras culturas do mundo, profundamente religiosas, como nas sociedades islâmicas radicais, a mulher é proibida de participar no espaço público, de aceder à educação superior, de votar ou mesmo em alguns casos extremos, de andar na rua com o cabelo à vista ou de cara destapada. Como ajudar o/a meu adolescente a lidar com a misogeniaPara abordar este tema, os pais e cuidadores podem proporcionar um espaço onde seja possível escutar e discutir abertamente com a/o adolescente. Esteja atento às muitas fontes de notícias diferentes disponíveis aos/às jovens e o quanto as suas opiniões são ditadas pelos seus pares. Mantenha a mente aberta e continue a discutir este tema! 1. Analise com o seu adolescente informações misóginas que encontram nas redes sociais, filmes ou entre colegas. 2. Recorra a casos reais de misoginia online e discuta em família as consequências para quem sofre e quem pratica, assim como o seu impacto na sociedade. 3. Ajude a/o adolescente a colocar-se no lugar das vítimas, ou questionar-se sobre como se sentiria se uma situação destas envolvesse uma mulher que ela/ele conhece e gosta, treinando a empatia. 4. Dê tempo para que todos dêem as suas opiniões, em vez de tentar impor seus próprios pontos de vista. 5. Incentive atitudes ativas, como denunciar publicações ofensivas e apoiar vítimas. 6. Discuta as características da comunicação online que podem facilitar comportamentos discriminatórios e de bullying (ver discriminação e bullying). 7. Explore conceitos de cyberbullying, mansplaining, slut-shaming e incels para amplificar a compreensão do problema. 8. Fale sobre a diferença entre liberdade de expressão e discurso de ódio. 9. Dê o exemplo, ao mostrar o respeito pelas mulheres que esperamos que os/as nossos/as adolescentes usem, destacando modelos masculinos positivos. 10. Partilhe conteúdos de influencers, vídeos ou podcasts que combatam a misoginia online e que falem sobre o tema de forma acessível e interessante para as/os adolescentes. Ler tambémAdolescência e saúde mental: diversidade, autoestima, pertença, pressão de pares e vida online Como ensinar o/a meu adolescente a ser mais inclusivo/a? Sexualidade e identidade de género Discriminação e bullying A/o meu adolescente está a ser vítima de bullying. O que devo fazer? A/o meu adolescente faz bullying. O que devo fazer? Estes conteúdos foram produzidos pela equipa multidisciplinar da ManifestaMente em Abril de 2025, no âmbito do Kit Básico de Saúde Mental para Jovens - saber mais.
0 Comments
Leave a Reply. |
Todos os temas:DestacamosEstratégias práticas para comunicar com o meu adolescente
|