A comunicação entre pais e filhos/as na adolescência é, por natureza, marcada por momentos de tensão e conflito, muitas vezes manifestados através da contestação da autoridade parental. Esse confronto não deve ser visto apenas como um problema, mas como uma etapa natural e necessária do desenvolvimento do/a jovem. O/a adolescente encontra-se num processo de construção da sua identidade, oscilando entre a necessidade de independência e a segurança proporcionada pela família. Essa ambiguidade interna pode resultar em atitudes desafiadoras, que refletem a sua busca por autonomia e afirmação pessoal. Um dos principais motores desse conflito é a crescente capacidade argumentativa da pessoa jovem. Ela começa a questionar regras, valores e expectativas, utilizando a lógica e o raciocínio crítico para defender os seus pontos de vista. Embora esse comportamento possa ser exaustivo para os pais, representa um avanço essencial no seu desenvolvimento. Quando bem conduzidos, esses momentos de confronto transformam-se em oportunidades valiosas para que o/a jovem aprenda a expressar as suas opiniões, desenvolva o pensamento crítico e compreenda a importância da responsabilidade pelas suas escolhas. Para os pais, é fundamental resistir à tentação de interpretar esses desafios como meras demonstrações de rebeldia ou desrespeito. Em vez disso, devem encarar essas interações como momentos educativos, nos quais podem ensinar o/a adolescente a argumentar de forma construtiva, a ouvir diferentes perspetivas e a lidar com frustrações. Criar um ambiente onde a discordância possa ser expressa de forma respeitosa e aberta fortalece a relação entre pais e filhos/as e prepara o/a jovem para interações sociais maduras e responsáveis no futuro. No fundo, os/as adolescentes precisam de espaço para testar os seus limites, com a certeza de que os pais continuarão presentes, oferecendo suporte e orientação. Ao acolherem o diálogo, mesmo nos momentos de conflito, os pais ajudam os/as filhos/as a crescer com confiança, segurança e capacidade de enfrentar os desafios e conflitos da vida adulta. Ser pai ou cuidador de um(a) adolescente pode ser uma experiência desafiadora e, muitas vezes, desgastante. A parentalidade não vem com um manual de instruções, e cada fase do crescimento dos/as filhos/as traz novas questões, exigindo dos pais adaptação, paciência e compreensão. Durante a adolescência, em particular, a comunicação pode tornar-se mais complexa, pois os/as jovens começam a afirmar a sua individualidade, nem sempre demonstrando abertura para o diálogo com os pais. No entanto, estudos mostram que pais afetuosos, disponíveis e envolvidos tendem a construir relações mais sólidas com os/as seus/suas filhos/as. A proximidade emocional e o interesse genuíno pela vida do/a adolescente criam um ambiente de confiança e segurança, fundamentais para o fortalecimento dos laços familiares. A comunicação não se baseia apenas nas palavras trocadas, mas também na escuta ativa, no respeito mútuo e na capacidade de validar os sentimentos e opiniões dos filhos. Apesar disso, a diversidade de temas que despertam o interesse dos/as adolescentes pode representar um desafio adicional para os pais. Entre a tecnologia, a cultura pop, as redes sociais e as mudanças sociais, os/as jovens estão constantemente a absorver novas informações e a moldar as suas perspetivas. Para os pais, manter-se atualizado sobre esses interesses pode ser um meio eficaz de estabelecer conexões mais autênticas. Isso não significa forçar uma proximidade artificial, mas sim demonstrar curiosidade e abertura para aprender e dialogar sobre os assuntos que fazem parte da realidade dos/as filhos/as, através de uma escuta activa sem julgamentos. A parentalidade durante a adolescência exige equilíbrio: saber quando intervir e quando dar espaço, estabelecer limites sem ser excessivamente rígido e, sobretudo, criar um ambiente onde o/a adolescente sinta que pode expressar-se sem medo de julgamentos. Embora o caminho nem sempre seja fácil, investir numa relação baseada no diálogo, na paciência e no afeto fará toda a diferença para a construção de uma ligação saudável e duradoura entre pais e filhos/as. Para conseguir manter um canal de diálogo aberto com o/a adolescente é fundamental perceber o que é a gestão emocional. A gestão emocional significa reconhecer, respeitar e aceitar as nossas emoções, e assim sermos capazes de as gerir. Ajuda-nos a saber o que queremos e o que precisamos (ou não queremos e não precisamos). Ajuda-nos a melhorar as nossas relações com os outros. Estar consciente das nossas emoções pode ajudar-nos a falar sobre sentimentos de forma mais clara, a evitar ou a resolver conflitos e a ultrapassar sentimentos difíceis e dolorosos. Apesar deste processo não ser linear, podemos enumerar algumas etapas importantes para uma gestão saudável: reconhecimento das emoções/sentimentos; aceitação e tentativa de compreensão dos mesmos e mecanismos para a sua gestão propriamente dita (exemplos são a escrita, falar, fazer exercício físico, entre outras). Não há “emoções boas” e “emoções más” apesar de algumas serem mais agradáveis de sentir do que outras, sendo que cada uma tem uma função. A alegria é importante porque traduz situações de satisfação e significa que as coisas correram como esperado. A tristeza serve para perceber que as coisas não aconteceram da forma que tínhamos idealizado, e também mostrar a necessidade de conversar/desabafar com alguém próximo e de confiança, como um amigo, familiar ou professor. A raiva é importante para compreender quando estamos perante uma situação de injustiça e nos zangamos. O medo serve para compreender os perigos que se apresentam diante de nós, sendo que alguns fazem mais sentido que outros. No entanto, apesar de não podermos controlar o que sentimos, podemos controlar a maneira como reagimos, havendo assim melhores formas de nos expressar que outras. A forma como se reage às emoções irá influenciar o nosso comportamento, escolhas, a maneira como iremos lidar com os desafios do dia-a-dia e no fundo, a maneira como desfrutamos da vida, e ainda, as emoções que se geram nos outros. Toda a gente pode melhorar a sua capacidade de gerir as emoções. Estes conteúdos foram produzidos pela equipa multidisciplinar da ManifestaMente em Abril de 2025, no âmbito do Kit Básico de Saúde Mental para Jovens - saber mais.
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