Sexualidade e identidade de género

A exploração da sexualidade e da identidade de género é um aspeto fundamental da construção identitária da adolescência. Este período é marcado pela descoberta e compreensão da própria orientação sexual e pela afirmação de género, que podem ser desafios complexos, especialmente em contextos onde predominem preconceitos ou falta de informação.

Nos últimos anos tem havido cada vez mais investigação na área da sexologia, o que tem permitido explorar aprofundadamente a experiência humana e definir diversos conceitos com maior precisão. Alguns conceitos fundamentais a esclarecer são:

O sexo biológico é determinado pelos cromossomas sexuais (XX sexo feminino e XY sexo masculino) e expresso nos caracteres sexuais primários e secundários (orgãos sexuais e características físicas diferenciadoras como as mamas no sexo feminino e os pelos faciais no sexo masculino, respectivamente).

A expressão de género diz respeito a uma construção psicossocial e cultural, de comportamentos, atitudes, formas de estar, associados a ser masculino ou feminino. Por exemplo, vestir saia é tradicionalmente, na nossa cultura, associado ao género feminino, assim como usar cabelo curto é mais associado ao masculino.

A identidade de género é a experiência subjetiva e interna do indivíduo de se sentir um homem, uma mulher, ambos, nenhum ou outro género.

A orientação sexual é um termo amplo que se refere ao objeto da atração em termos emocionais, físicos e/ou sexuais por pessoas do mesmo género, outro género ou vários géneros. Relaciona-se com o desejo interpessoal. A orientação sexual é percepcionada como sendo um espectro.

Transgénero é um termo generalista para pessoas cuja identidade ou expressão de género não se conforma com o que é tipicamente associado com o sexo que lhes foi atribuído à nascença. Por exemplo, uma mulher trans (ou transgénero) é uma mulher cujo sexo designado à nascença foi masculino; um homem trans é um homem cujo sexo designado à nascença foi feminino e uma pessoa não-binária ou queer é uma pessoa que não se identifica com o género masculino ou feminino ou que se identifica com ambos, não se encaixando numa visão binária do género. Em contrapartida, uma pessoa cuja identidade e expressão de género corresponde com o sexo atribuído à nascença denomina-se pessoa cis.

Nesta conceção, estas dimensões são encaradas como espectros, relativamente independentes uns dos outros. Podemos pensar no que é mais frequente, como alguém que nasce com os cromossomas XX (sexo feminino), identifica-se com uma mulher e é heterossexual. Mas isso não pode apagar as outras vivências humanas, que existem e são válidas. No campo da sexualidade, uma boa regra é que desde que haja maturidade e capacidade para conhecer as próprias necessidades e limites, e a exploração ocorra dentro de consentimento de todas as partes, está tudo certo.

A homofobia e transfobia, isto é, a discriminação e o ódio dirigido a pessoas LGBTQIA+, são fenómenos reais, com impacto profundo nas vidas das pessoas afetadas, em particular na sua saúde mental.

Como ajudar o/a meu/minha adolescente a lidar com estas questões?

Um ambiente seguro onde a pessoa jovem se sinta confortável para discutir estes temas sem medo de julgamento é o primeiro passo para que tudo corra melhor. Não tenha receio de introduzir o tema abertamente, responda às perguntas que lhe forem colocadas com clareza e honestidade, respeite o ritmo da sua descoberta e tente evitar impor expectativas ou padrões. Considere procurar recursos ou profissionais que possam ajudar com este tema.

Abordar a sexualidade e as questões de género com a/o adolescente é um processo importante e contínuo, que deve então ser conduzido de forma aberta, honesta e sem julgamentos. Primeiro, escute as questões do jovem e esteja atento às suas preocupações. Muitas vezes, os/as jovens já têm algumas ideias ou curiosidades sobre esses temas, e é importante que se sintam à vontade para expressá-las sem medo de críticas ou rejeição.

Procure informar-se para oferecer informação precisa e cientificamente correta nesta área e encoraje a autoaceitação e a exploração da própria sexualidade e identidade. Lembre a/o adolescente que não há pressa em definir-se ou rotular-se e que pode contar consigo para apoio e orientação, independentemente das suas descobertas e escolhas. Promova ainda a aceitação das diferenças: explique que as pessoas podem ter diferentes orientações sexuais e identidades de género e que merecem respeito e compreensão. Por último, se a pessoa jovem estiver a passar por dificuldades para compreender ou lidar com a sua própria identidade de género ou orientação sexual, considere procurar acompanhamento psicológico especializado.

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Estes conteúdos foram produzidos pela equipa multidisciplinar da ManifestaMente em Abril de 2025, no âmbito do Kit Básico de Saúde Mental para Jovens - saber mais.