O que é que as redes sociais estão a fazer aos meus alunos adolescentes

Sendo a adolescência uma fase determinante da construção da personalidade e da identidade pessoal e moral de um indivíduo, este é um período intenso de autodescoberta, em que os/as jovens começam a questionar quem são, do que é que gostam, em que é que acreditam e como se posicionam no mundo. Para além da influência dos pares e da família, a escola desempenha um papel fundamental neste percurso, ajudando os alunos a refletir sobre a sua identidade de forma saudável e informada. Atualmente, as/os adolescentes utilizam frequentemente ambientes virtuais, como as redes sociais e os videojogos, para se expressarem e experimentarem diferentes facetas da sua identidade.

Para além da influência dos pares e da família, a escola desempenha um papel fundamental neste percurso, ajudando a comunidade juvenil a refletir sobre a sua identidade de forma saudável e informada, pelo que a temática das redes também deve ser uma preocupação e área de intervenção.

O cérebro

O cérebro continua a desenvolver-se durante a adolescência, em particular o lobo frontal. Esta área cerebral é responsável pelas funções executivas como adiar a gratificação, controlar a atenção, inibir impulsos e elaborar consequências a longo prazo das nossas escolhas. O facto desta área cerebral ainda não estar completamente formada faz com que a adolescência seja pautada por um marcado desejo pelo imediatismo e novos estímulos. O sistema de recompensa do cérebro também passa por mudanças dramáticas durante esta fase da vida, contribuindo também para o desejo por recompensas imediatas, conectividade humana e aventura.

Consequências

A tecnologia digital dá resposta a vários dos desejos acima mencionados, no sentido que fornece resultados imediatos, dá acesso direto à informação desejada e é fonte de novos estímulos e recompensas imediatas. Estudos com Ressonância Magnética Funcional mostram associação entre o número de likes recebidos numa rede social e a atividade desencadeada no sistema de recompensa cerebral.

Durante a adolescência, passar demasiado tempo no telemóvel ou outro ecrã pode prejudicar o sono e provocar sonolência diurna, irritabilidade, dificuldade de concentração e de aprendizagem. Ao substituir a atividade física e atividades ao ar livre, o excessivo tempo de ecrã limita oportunidades de desenvolver competências motoras e pode levar ao aumento do sedentarismo e obesidade. Diminui o tempo dedicado a interações sociais e atividades em grupo, prejudicando o desenvolvimento de competências sociais e emocionais e até da linguagem. Os conteúdos que são consumidos podem ainda facilitar a exposição a violência.

Não são só coisas más

Atualmente, o uso generalizado de tecnologias digitais como smartphones, redes sociais e  Internet transformou vários aspectos da vida quotidiana. As redes sociais e o mundo digital são um espaço único de expressão criativa, comunicação e informação. Facilitam a comunicação entre pessoas com os mesmos interesses e revolucionaram a maneira como acedemos à informação. Esta transformação digital, apesar de trazer vários desafios, oferece também avenidas privilegiadas de acesso às/aos jovens e oportunidades únicas para o campo da educação e promoção da saúde, permitindo difundir informação fidedigna e combater o estigma associado à doença mental.

Acrescenta-se ainda que os/as jovens atualmente fazem uso das redes sociais também para dar e receber apoio, tanto dos seus pares como de indivíduos desconhecidos. Os meios digitais são utilizados também para partilhar emoções e responder à partilha de emoções e mesmo para cooperar com outros adolescentes com os quais se identificam, mesmo do outro lado do mundo. Um estudo no Reino Unido, apurou que 83% das pessoas adolescentes dizem que as redes sociais fazem com que elas se sintam mais conectadas com os seus amigos e 68% dizem ter recebido apoio social ao usar tecnologias digitais em tempos difíceis e desafiantes. Esta ajuda pode ser diferenciadora pois é independente do contexto escolar e familiar.

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Estes conteúdos foram produzidos pela equipa multidisciplinar da ManifestaMente em Abril de 2025, no âmbito do Kit Básico de Saúde Mental para Jovens - saber mais.