REALIDADES
Neste momento, uma em cada cinco pessoas em Portugal tem uma doença mental. Estas taxas são das mais altas na Europa, onde se estima que uma em cada três pessoas venha a sofrer de doença mental nalgum momento da sua vida (2).
As doenças mentais podem ser de muitos tipos e geralmente caracterizam-se por alguma combinação de alterações nos pensamentos, emoções, comportamentos e nas relações com os outros (3). Alguns exemplos são a depressão, a perturbação bipolar, a esquizofrenia, os distúrbios de ansiedade, as demências, o abuso de substâncias, as deficiências cognitivas e as perturbações do desenvolvimento e do comportamento, como o autismo (4). Além disso, das 10 principais causas de incapacidade no mundo, cinco são perturbações neuro-psiquiátricas (5). Os casos mais extremos da doença podem levar ao suicídio, que é já uma das 10 principais causas de morte na Europa (6). De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a saúde mental é um estado de bem-estar que nos permite tirar partido das nossas capacidades, lidar com as adversidades normais da vida, trabalhar produtivamente e contribuir para a nossa comunidade (7).
A maior parte de nós aprendeu a compreender a saúde mental em termos de pessoas saudáveis ou doentes, “nós e eles”, “os normais e os malucos”. Mas esta divisão não existe. Há vários níveis de cinzentos entre uma mente super saudável e uma mente muito fora da realidade - e é algures nesse cinzento complexo que nos encontramos. A nossa saúde mental não é estática - ela varia ao longo da vida. Há imensas circunstâncias da vida (como a morte de alguém querido) em que é natural passarmos por uma situação de sofrimento emocional ou de luto. Nesses momentos a nossa capacidade de lidar com os problemas normais da vida ou trabalhar produtivamente, pode ficar alterada. Nalguns casos esses problemas são ultrapassados e, noutros, podem começar a transformar-se numa doença mental (8).
Assim, a doença mental não é um sinal de fraqueza mas sim, muitas vezes, a combinação de uma vida difícil com uma genética propícia que pode despoletar uma doença para a qual temos predisposição. Também não é uma sentença de infelicidade - muitas pessoas são felizes depois de obterem ajuda e aprenderem a lidar com a sua doença Ainda é comum pensar-se que as pessoas com perturbações mentais são difíceis, pouco inteligentes ou incuráveis (9). Isso leva a situações de abuso, rejeição e isolamento nos doentes e seus familiares, que muitas vezes acabam por não pedir ajuda (10).
Por outro lado, não existe muita informação sobre como chegar aos serviços de saúde, muitos são de difícil acesso (11), não conseguem dar resposta ao número de pessoas com doença mental e os serviços privados não são acessíveis à maioria. Em Portugal, é frequente as pessoas esperarem cinco anos desde que começam os sintomas até irem à primeira consulta especializada de saúde mental (12). |
SOLUÇÕES
Enquanto as doenças mentais forem tabu, as suas consequências continuarão escondidas por uma capa de vergonha. É preciso aumentar o nosso conhecimento e mudar a forma como compreendemos a saúde e a doença mental.
Precisamos todos de criar espaços para que quem sofre possa falar desse sofrimento em segurança e pedir ajuda - independentemente de ter uma doença mental ou não. Partilhar as nossas emoções e inquietações é um sinal de coragem que pode ajudar a combater a desinformação. A nossa saúde mental é um bem maior que não pode ser uma responsabilidade só dos técnicos. É importante contar com a participação de todos os cidadãos - quer sejam saudáveis, doentes ou familiares, quer façam parte do sector da saúde ou de outros sectores, quer tenham poder político ou não (13).
É urgente juntar à mesa vozes de várias disciplinas, idades e experiências na procura de soluções inovadoras para os problemas que enfrentamos. Não podemos continuar a depender exclusivamente de serviços de saúde sobrecarregados nem de serviços privados que a maioria não pode pagar. Está na hora de nos encorajarmos uns aos outros a pôr as mãos na massa de forma criativa e proactiva.
Precisamos de encontrar soluções novas para aqueles que estão a sofrer e não têm a ajuda de que precisam, por não terem dinheiro, força ou informação. E, ao mesmo tempo, de tirar melhor partido das nossas capacidades, lidar melhor com as adversidades da vida, trabalhar produtivamente e contribuir para a nossa comunidade. |
VISÃO
Vivemos numa sociedade em que cuidamos melhor uns dos outros quando estamos a sofrer e nos incentivamos a melhorar a nossa saúde mental mesmo quando nos sentimos bem.
Compreendemos melhor o que é saúde e doença mental enquanto sociedade e sabemos que um diagnóstico não é uma sentença de infelicidade. Sabemos responder com empatia em vez de reagir com medo e julgamentos. Mobilizamo-nos em conjunto para rentabilizar o conhecimento e criatividade de todos, e construímos soluções alternativas e eficazes para dar resposta às nossas necessidades em termos de saúde mental. Construímos juntos uma sociedade em que nos sentimos melhor, temos um vida produtiva e participamos na resolução dos problemas que assolam a Humanidade. |
Referências Bibliográficas
1 - WHO (2013), Mental Health Action Plan 2013-2020, WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível em aqui
2 - Bruffaerts, R. et al. (2011) The burden of Mental Health Disorders in the European Union, Katholieke Universiteit Leuven. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
3 - WHO (2013), Mental Health Action Plan 2013-2020, WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
4 - WHO (2013). Mental Health Action Plan 2013-2020. WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui || WHO. The ICD-10 Classification of Mental and Behavioural Disorders: Clinical descriptions and diagnostic guidelines. World Health Organization. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
5 - Direcção Geral da Saúde (2013). Portugal, Saúde Mental em Números - 2013. Programa Nacional Para a Saúde Mental. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui || Xavier, M et al (2013). Implementing the World Mental Health Survey Initiative in Portugal – rationale, design and fieldwork procedures. International Journal of Mental Health Systems 2013, 7:19. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui || Coordenação Nacional para a Saúde Mental (2008). Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016, Resumo Executivo. Coordenação Nacional para a Saúde Mental. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
6 - Xavier, M. et al (2013). Implementing the World Mental Health Survey Initiative in Portugal – rationale, design and fieldwork procedures. International Journal of Mental Health Systems 2013, 7:19. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
7 - WHO (2004). Promoting Mental Health: Concepts, Emerging Evidence, Practice; Summary Report. WHO. Geneva. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui || WHO (2013), Mental Health Action Plan 2013-2020, WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
8 - Galderisi, S. et al (2015). Toward a new definition of mental health. World Psychiatry, 14(2), 231–233. Acedido em Outubro de 2017. Disponível aqui
9 - WHO. Fact Files: Stigma and discrimination against patients and families prevent people from seeking mental health care. WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
10 - WHO (2013). Mental Health Action Plan 2013-2020. WHO Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
11 - Entidade Reguladora da Saúde (2016). Acesso e Qualidade nos Cuidados de Saúde Mental. ERC. Março de 2016. Porto. Acedido em Outubro de 2017. Disponível aqui
12 - Direcção Geral da Saúde (2016). Portugal, Saúde Mental em Números - 2015, Programa Nacional Para a Saúde Mental Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
13 - Direcção Geral da Saúde (2016). Portugal, Saúde Mental em Números - 2015, Programa Nacional Para a Saúde Mental Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
2 - Bruffaerts, R. et al. (2011) The burden of Mental Health Disorders in the European Union, Katholieke Universiteit Leuven. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
3 - WHO (2013), Mental Health Action Plan 2013-2020, WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
4 - WHO (2013). Mental Health Action Plan 2013-2020. WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui || WHO. The ICD-10 Classification of Mental and Behavioural Disorders: Clinical descriptions and diagnostic guidelines. World Health Organization. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
5 - Direcção Geral da Saúde (2013). Portugal, Saúde Mental em Números - 2013. Programa Nacional Para a Saúde Mental. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui || Xavier, M et al (2013). Implementing the World Mental Health Survey Initiative in Portugal – rationale, design and fieldwork procedures. International Journal of Mental Health Systems 2013, 7:19. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui || Coordenação Nacional para a Saúde Mental (2008). Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016, Resumo Executivo. Coordenação Nacional para a Saúde Mental. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
6 - Xavier, M. et al (2013). Implementing the World Mental Health Survey Initiative in Portugal – rationale, design and fieldwork procedures. International Journal of Mental Health Systems 2013, 7:19. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
7 - WHO (2004). Promoting Mental Health: Concepts, Emerging Evidence, Practice; Summary Report. WHO. Geneva. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui || WHO (2013), Mental Health Action Plan 2013-2020, WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
8 - Galderisi, S. et al (2015). Toward a new definition of mental health. World Psychiatry, 14(2), 231–233. Acedido em Outubro de 2017. Disponível aqui
9 - WHO. Fact Files: Stigma and discrimination against patients and families prevent people from seeking mental health care. WHO. Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
10 - WHO (2013). Mental Health Action Plan 2013-2020. WHO Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
11 - Entidade Reguladora da Saúde (2016). Acesso e Qualidade nos Cuidados de Saúde Mental. ERC. Março de 2016. Porto. Acedido em Outubro de 2017. Disponível aqui
12 - Direcção Geral da Saúde (2016). Portugal, Saúde Mental em Números - 2015, Programa Nacional Para a Saúde Mental Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
13 - Direcção Geral da Saúde (2016). Portugal, Saúde Mental em Números - 2015, Programa Nacional Para a Saúde Mental Acedido em Setembro de 2017. Disponível aqui
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