A internet revolucionou o nosso acesso à informação… no bom e no mau sentido. Pesquisar ‘saúde mental’ no Google dá origem a 45 800 000 resultados. Como saber se a informação que encontramos é fidedigna e de confiança, ou pelo contrário, se está desactualizada, é incorrecta ou mesmo desonesta? Fizemos um algoritmo para ajudar a separar o trigo do joio!
1. O site é de confiança?
|
De um modo geral os sites com informação, sobre saúde, criados e mantidos pelo governo, agências públicas de saúde mental e universidades tendem a ser fontes de informação de confiança e um bom local para começar.
Também existem muitos outros sites, nomeadamente de associações sem fins lucrativos, com informação fidedigna sobre saúde mental. Para perceber se a informação é credível é útil tentar compreender os objetivos do site em que a publicação se insere. A maioria dos sites terá uma secção ‘sobre’ que descreve a natureza da organização, visão e filosofia. Um site de uma associação sem fins lucrativos destinada a promover a saúde mental inspira mais confiança do que o site de uma empresa focada no lucro, ou que esteja a tentar vender-nos alguma coisa. Se o site está a tentar vender-nos um produto ou serviço, a informação que fornecem poderá estar sujeita a conflito de interesse e por isso ser menos rigorosa. Se o site não tem qualquer informação sobre a natureza e objetivos da organização, não inspira muita confiança. De um modo geral as organizações, ou associações sem fins lucrativos, que receberam o apoio da Direção Geral da Saúde, do Programa Nacional de Saúde Mental, ou do Lisbon Institute of Global Mental Health já foram submetidas a um processo rigoroso de avaliação, o que dá alguma confiança à informação presente no site. No âmbito das instituições internacionais, destacamos a Organização Mundial de Saúde e a World Federation for Mental Health enquanto entidades que avaliam a credibilidade das organizações que se associam.
Como ponto de partida temos algumas sugestões de organizações cuja informação online confiamos:
em português - https://www.manifestamente.org/outros-recursos-em-portuguecircs.html em inglês - https://www.manifestamente.org/outros-recursos-em-inglecircs.html |
2. O autor tem competência para falar deste assunto?
|
Verificar que o autor (ou a pessoa responsável pela revisão dos conteúdos) tem formação e experiência profissional na área da saúde mental é uma maneira de assegurar a credibilidade da informação a que estamos a aceder. Em Portugal, todos os psicólogos, médicos e enfermeiros recebem formação geral em saúde mental e são os profissionais de referência para recorrer para questões de saúde mental. Muitos escolhem progredir na carreira especializando-se em saúde mental: é o caso dos psicólogos clínicos, médicos psiquiatras e enfermeiros especialistas em saúde mental e psiquiátrica. Os médicos de família também têm formação adicional sobre saúde mental. Existem também várias formações adicionais ao nível do ensino superior (pós-graduações, mestrados e doutoramentos) da área da saúde mental que permitem a estes profissionais atualizar e expandir os seus conhecimentos. Paralelamente, alguns profissionais de áreas adjacentes à saúde (por exemplo: assistentes sociais, sociólogos, antropólogos), podem enveredar pela área da saúde mental, ao nível da experiência profissional e formação adicional, e ter por isso contributos interessantes a acrescentar. A Psicoterapia é também uma área ligada à saúde mental. Em Portugal, os psicoterapeutas são, na sua maioria, psicólogos ou médicos psiquiatras, que fizeram uma especialização extra. É importante prestar atenção à formação específica dos psicoterapeutas que não sejam profissionais da área da saúde, pois pode haver uso abusivo do título por outros profissionais que não tenham a devida formação.
De um modo geral, quanto mais formação superior e experiência profissional em saúde mental tem o autor, mais credível será a informação que transmite. Evidentemente, em todas as áreas encontramos melhores profissionais e profissionais menos bons, mas os profissionais de saúde estão sujeitos a requisitos legais rigorosos e submetidos ao escrutínio dos pares (é esta a principal responsabilidade das ordens profissionais), o que assegura o cumprimento dos requisitos mínimos da profissão. Também é frequente encontrar pessoas que não são profissionais de saúde a falar sobre saúde mental. Às vezes são pessoas que passaram pela experiência de ter uma doença mental e decidiram oferecer o seu testemunho com muita generosidade para ajudar outras pessoas que possam estar a passar pela mesma situação (temos alguns exemplos aqui Testemunhos). É importante termos presente nestes casos que, mesmo em situações com o mesmo diagnóstico, a nossa situação, tratamento e evolução pode ser muito, muito diferente. É importante ter em mente que podemos encontrar pessoas bem-intencionadas a falar sobre temas variados, sem terem a competência ou formação para o fazer, podendo por isso estar a passar informação errada, mesmo sem querer. Infelizmente também existem pessoas desonestas a tentar enriquecer à custa do sofrimento das pessoas mais vulneráveis. |
3. Esta informação é fundamentada em fontes científicas?
|
Uma publicação que lista as fontes, ou referências bibliográficas, em que o autor se baseou para produzir a informação da sua publicação permite-nos verificar até que ponto os conteúdos são fidedignos. Uma publicação que mencione artigos científicos, publicados em revistas credíveis da especialidade, merece mais confiança do que uma publicação que não mencione as suas fontes, ou mencione como fontes sites ou autores pouco credíveis.
Isto dito, é frequente encontrarmos artigos de autores de confiança sobre temas consensuais dentro da comunidade científica que não citam fontes, precisamente por serem temas consensuais. Contudo as publicações que mencionem descobertas recentes, novos tratamentos, uma nova compreensão sobre as causas e precipitantes de determinada doença, ou levantamentos da incidência prevalência de um problema de saúde - estas publicações devem ter as fontes assinaladas. Não chega dizer que a informação é ‘baseada em estudos’, é importante dizer quais! Por outro lado, às vezes encontramos pessoas que não são profissionais de saúde a defender determinadas ideias ou recomendações com base num determinado ‘estudo’. É sempre importante validar esta informação com um profissional de saúde, que tem competências para avaliar a diferença entre conclusões significativas de um estudo e resultados que precisam de maior avaliação antes de serem conclusivos (mais informação sobre este tema em breve). Alguns sites podem citar exemplos de pessoas específicas para fundamentar determinadas recomendações, como substituto das fontes científicas - esta é uma marca de informação de pouca confiança. As histórias pessoais são muitas vezes inspiradoras e importantes para passar uma mensagem, mas não podem ser utilizadas à parte da ciência como único argumento para generalizar conclusões. Cada pessoa é diferente, por isso uma história de sucesso, ou insucesso, pode ser um exemplo comum ou uma situação muito excecional. Por isso a ciência se empenha em avaliar um grande número de pessoas ao pormenor, antes de produzir conclusões finais. |
4. A data da publicação é recente?
|
A investigação científica não para, estamos a aprender coisas novas sobre o cérebro e a saúde mental todos os dias. A informação antiga não estará necessariamente errada, mas pode estar desatualizada ou incompleta.
As fontes de informação mais credíveis indicam quando é que a informação foi publicada ou revista pela última vez. Se tiver menos de um ano, é razoavelmente atual. |
5. Isto parece bom demais para ser verdade?
|
Cada vez que há um avanço significativo em qualquer campo da ciência, os investigadores correm para serem os primeiros a publicar o artigo científico e as notícias voam dentro do campo dessa especialidade: todos os profissionais de saúde e meios de comunicação vão querer divulgar a novidade. Assim sendo, se de repente surgir uma cura milagrosa no âmbito da saúde mental, é provável que essa notícia esteja disponível em todo o lado e seja do conhecimento do profissional de saúde que nos acompanha.
Por outro lado, o caminho até uma descoberta importante é geralmente longo porque a ciência tem por base um ceticismo incontornável (e desejável!). É necessário testar as novas hipóteses várias vezes, e de várias formas, antes de se poder confiar nos resultados. Isto faz com que, quando uma nova solução ou tratamento promissor se torna de conhecimento público, geralmente já sofreu escrutínio e questionamento durante vários anos entre a comunidade médica/científica e é possível "seguir o rasto" a essa discussão - ou seja, é difícil haver grandes surpresas súbitas. Se encontrarmos referência a uma cura milagrosa (suplemento, dieta, tratamento) que só uma pessoa tem conhecimento ou desenvolve, muitas vezes alegando que curou dezenas ou centenas de pessoas com esse método, sem qualquer fundamento científico… é provável que se trate de informação desonesta. |
Conclusão A: bom sinal! Se as respostas a todas as perguntas foram azul turquesa, é um bom sinal: é provável que a informação desta publicação seja fidedigna e de confiança. É na mesma vantajoso discutir informação nova com o profissional de saúde que me acompanha, para poder fazer melhor uso dela, principalmente se for informação que ponha em causa o meu diagnóstico ou tratamento. Em nenhuma circunstância devo fazer alterações ao meu tratamento sem o conhecimento e aprovação do profissional de saúde que me acompanha. Se estou preocupado com a minha saúde mental e ainda não sou acompanhado por nenhum profissional de saúde, o melhor é conversar com um profissional de saúde em quem confio, por exemplo o médico que me acompanha - mais informação sobre como encontrar ajuda dentro do Serviço Nacional de Saúde aqui https://www.manifestamente.org/serviccedilo-nacional-de-sauacutede.html |
Conclusão B: na dúvida… Se nem todas as respostas a estas perguntas foram azul turquesa, corro o risco de estar perante informação incorreta. Vale a pena procurar informação sobre este assunto noutros websites de maior confiança (sugerimos estes em português https://www.manifestamente.org/outros-recursos-em-portuguecircs.html e estes em inglês https://www.manifestamente.org/outros-recursos-em-inglecircs.html), ou discutir esta informação com o profissional de saúde que me acompanha. Quanto menos respostas verdes, maior o risco desta publicação não ser fidedigna. |
Este website utiliza tecnologias de marketing e de acompanhamento. A sua desativação excluirá todos os cookies, exceto os que são necessários para que o website funcione. Tenha em atenção que alguns dos produtos podem não funcionar bem sem cookies de rastreamento. Desativar cookies |