Adolescência – Irreverência VS Sensibilidade*

​Ao falarmos de Saúde Mental é inevitável não associarmos o conceito à adoção de hábitos saudáveis. 
Hábitos como padrões de sono, alimentação, exercício físico, mas também, habilidades interpessoais, de resolução de conflitos e gestão de emoções. 

Por outro lado, também nos surge facilmente o conceito de Perturbação Mental.

Apesar de grande parte dos adolescentes apresentar uma boa saúde mental, é sabido que esta é uma fase do desenvolvimento propícia ao aparecimento de algum tipo de problema ou perturbação. 

As múltiplas mudanças físicas, emocionais e sociais, assim como a pressão entre pares, a violência, a exploração da identidade sexual, o desejo de autonomia, as relações parentais ou o possível uso (ou abuso) das novas tecnologias, álcool ou drogas têm um impacto notável nesta fase do desenvolvimento (que, por si só já é conturbada), podendo tornar o adolescente e/ou família mais vulnerável e propenso a condições de perturbação mental. 

Tendo como objetivo promover o bem estar psicológico e desmistificar a doença/perturbação mental, foram realizadas algumas sessões de sensibilização ao tema da Saúde Mental, dando-lhes a possibilidade de assistirem posteriormente, na íntegra, ao Kit Básico de Saúde Mental, promovido pela Manifestamente. 

Recordo-me de uma sessão em particular, talvez por ter sido a primeira, com o público alvo adolescentes do 9º ano de escolaridade.

Curiosamente, e ao contrário daquilo que muitas vezes pensamos dos nossos jovens, senti, ao longo da apresentação que, apesar de rebeldes ou irreverentes, de usarem piercings, calças rasgadas, mini tops ou tatuagens, do mais tímido ao mais ousado, cada um com as suas características individuais, todos, ou quase todos, tinham uma característica comum: a preocupação e sensibilidade ao tema delicado que é a saúde mental.

Isto porque ao falar sobre depressão, pânico, ansiedade, ou outras, houve, de forma cúmplice e desinibida, a partilha de experiências e situações de âmbito familiar, de amizade ou até mesmo do próprio… com discursos na primeira pessoa do que é sentir uma depressão, ansiedade ou um verdadeiro ataque de pânico! Partilhar é  importante para sentirmos que não estamos sós e que alguém ao nosso lado já vivenciou algo semelhante!
Estas são, de facto, situações frequentes nos nossos adolescentes, na nossa sociedade e que, talvez devido à pandemia COVID, se tem agravado e manifestado ainda mais nos últimos tempos.

De forma a dar resposta a esta, e outras situações, o Município de Torres Novas aceitou a proposta apresentada pela equipa de psicólogas e dinamizadoras locais para a saúde mental e implementou o Gabinete de Psicologia. 

Vamos continuar a ouvir testemunhos, a refletir em conjunto, a dinamizar ações de sensibilização, chegar a outros públicos e pôr em prática as sessões temáticas sugeridas até ao momento.

Dinamizadora Município de Torres Novas: Patrícia Rebeca 

* Este artigo é um testemunho do trabalho no terreno de participantes no Programa de Capacitação de Dinamizadores Locais da ManifestaMente.