Celebrar as voltas que o mundo dá ao sol é uma das maneiras de percebermos que o tempo passa e termos oportunidade de refletir sobre as nossas vidas e os rumos que estas tomam. 2020 foi um ano, no mínimo, especial. Trouxe-nos muitas coisas que não pedimos e mostrou-nos um mundo que desconhecíamos ser capazes de nele viver. Há a tentação irresistível de pensar que que esta passagem de ano vai, como que por magia, mudar tudo, trazer de facto uma vida nova, sem covid e com a normalidade que desejamos há muito. Contudo, sabemos que esta passagem de ano não representará uma vida nova para a pandemia. Continuaremos a ter que tomar as devidas precauções de modo a evitar a propagação do vírus, nomeadamente o distanciamento físico, a utilização de máscara e a lavagem frequente das mãos. A vacina já começou a ser distribuída e isso é sem dúvida uma boa noticia, mas ainda demorará a vir a tão esperada “vida nova”.
É expectável que o novo período de confinamento neste inverno traga novamente os mesmos desafios que verificámos em março do ano passado. O teletrabalho, em particular, pode levar a um aumentar do isolamento social e interferir com as rotinas familiares. A dificuldade em manter horários definidos (de trabalho e não-trabalho) ao longo do dia e a necessidade de recorrer ao “multitasking" pode, por si só, aumentar os níveis de cansaço, irritabilidade e ansiedade. Sabemos que o teletrabalho é uma solução que permite a manutenção da atividade laboral com o mínimo de contactos sociais, mas não está isenta de desafios para a saúde mental dos trabalhadores. O facto de já termos passado por tudo isto, faz com que existam certamente algumas lições que foram aprendidas, nomeadamente no que diz respeito a estratégias de gestão de stress, o que pode atenuar o impacto da pandemia a nível da saúde mental nesta nova vaga. Por outro lado, o facto da pandemia se arrastar há tanto tempo, assim como as restrições sociais, pode levar a um cansaço e desgaste da população e consequentemente a uma maior dificuldade em lidar com este desafio. O novo confinamento terá impacto certamente, mas a magnitude é difícil de prever. A duração das medidas de confinamento é provavelmente um dos fatores mais decisivos. Neste novo ano, será particularmente importante relembrarmos a nossa “receita” de saúde mental e praticá-la. (Se quem nos lê ainda não sabe o que queremos dizer com “receita” de saúde mental, acrescentamos que esta é uma boa altura para ir ver o Kit Básico de Saúde Mental) Reforçando a ideia de que a saúde mental faz parte da saúde em geral, será fundamental ter atenção a alimentação, praticar exercício físico regular, respeitar a necessidade de descanso, manter a ligação às pessoas próximas e à nossa comunidade e ainda praticar uma postura adaptativa às adversidades que surgem na nossa vida. Compreender a importância da saúde mental e torná-la uma prioridade é sem dúvida uma boa estratégia! Existem ainda certamente mudanças internas que nos podemos e devemos propor a fazer, que não estão dependentes do estado da pandemia. Cada um saberá aquilo que faz mais sentido e que deseja investir neste novo ano. A Manifestamente deseja a todos um excelente ano de 2021 e à semelhança do apelo da DGS para todos nós sermos um agente de saúde pública, também todos nós temos um papel a desempenhar em termos de saúde mental. Que em 2021, todos sejamos um agente de saúde menta! Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Beatriz Lourenço Comments are closed.
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