Deste modo, relembrou o dever que a Humanidade tem em garantir às crianças e adolescentes as oportunidades de que necessitam para viverem uma infância e juventude plenas.
Um problema pré-pandémico Um dos direitos especificados é o do repouso e tempos livres, com o direito de participar em jogos e actividades recreativas próprias da sua idade - no fundo, o direito a brincar. Carlos Neto, Professor Catedrático na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, refere que antes do confinamento as crianças já viviam confinadas. Vários fatores contribuem para este panorama: pais com horários profissionais extensos, crianças com o tempo livre preenchido para actividades pré-programadas e sem tempo para a brincadeira livre. Igualmente limitante, o espaço para brincar, principalmente no contexto das grandes cidades onde o trânsito é mais intenso e os espaços verdes são escassos. Assim, brincar tem vindo a ocorrer cada vez mais dentro de casa e o entretenimento digital tem vindo a ganhar protagonismo. Num mundo que corre a um ritmo frenético, que não nos permite observar, dar tempo e apreciar a brincadeira, corremos o risco de desaprender como brincar. Existe também a procura por proteger de todos os possíveis riscos associados à brincadeira. Esta superproteção limita a noção de competência e de autonomia progressiva, necessária para o desenvolvimento das crianças. Esta visão de um mundo inseguro pode induzir ansiedade e até encorajar a dependência das crianças em relação aos pais. Talvez o ideal seja não eliminar totalmente os riscos, mas fornecer ferramentas às crianças para geri-los. De forma transversal, existe um foco no desempenho que coloca as crianças sob stress e limita a criatividade e a aprendizagem despreocupada. Na verdade, brincar encoraja a aprendizagem, a observação e a atenção. Permite à criança tentar e errar, aceitar as suas falhas e, assim, aumentar a sua autoconfiança. Esta aprendizagem na brincadeira, com o desenvolvimento da autonomia e de competências sociais, é vital para o sucesso curricular. Brincar é aprender e é um assunto sério Brincar permite uma comunicação entre o mundo exterior e o mundo interior da criança, pelo que facilita a compreensão da realidade. Permite explorar o meio envolvente e expressar a sua curiosidade inata, elaborar fantasias da imaginação própria dos mais novos, algo necessário para diminuir os medos que possam vivenciar. Igualmente, desenvolve a resiliência perante os imprevistos da brincadeira, tornando a criança mais apta para gerir um mundo em constante mudança, mais tarde na vida. Numa idade pré-escolar, uma brincadeira livre onde a criança explora ao ritmo da própria curiosidade, ensina uma postura mais proactiva, que poderá aplicar na sala de aula anos mais tarde. A brincadeira livre permite que a criança descubra as suas preferências e interesses. Já a brincadeira guiada pelos adultos ou em conjunto com crianças mais velhas permite o desenvolvimento de competências de que a criança sozinha ainda não dispõe, mas que tem capacidade para aprender, se demonstrado primeiro por alguém que sabe. Por isso, é importante que os pais brinquem com os filhos. As interações que se desenrolam e a comunicação verbal e não-verbal que se experimenta entre pais e filhos na brincadeira partilhada, permitem uma alegria comum e regulam a resposta a situações de stress vividas. É uma porta para os pais verem o mundo na perspectiva da criança e apreciarem a sua individualidade. As crianças de hoje serão os adultos de amanhã. Brincar evidencia-se cada vez mais como algo importante para aprender competências para enfrentar os desafios do século XXI, como a capacidade de resolução de problemas e colaborativa e a criatividade. Nesse sentido, e com importância acrescida num contexto de confinamento com muitas horas passadas em casa, é fundamental relembrar os benefícios do brincar, algo recomendado como um cuidado de saúde essencial às crianças. Numa sociedade onde damos cada vez mais valor aos componentes didáticos e curriculares, é importante relembrar que a aprendizagem também se dá no recreio e na brincadeira. Em situações de adversidade, como a que vivemos, brincar torna-se ainda mais essencial. Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Catarina Esteves Comments are closed.
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