Em primeiro lugar, creio que é importante fazer uma distinção entre saúde e doença mental. Atualmente, tende-se a ver a saúde mental como um continuum, que vai desde um estado de funcionamento saudável a estados de doença. O espectro mais saudável pode ser representado pela capacidade de gerir os desafios do dia-a-dia, de manter as relações pessoais e as atividades sociais e profissionais. No extremo oposto, surgem as dificuldades em lidar com os desafios quotidianos, que podem culminar em doenças mentais, como a ansiedade e a depressão.
Nos últimos anos, o conceito de saúde mental tem também sido associado aos conceitos de felicidade e emoções positivas. Tal tem-se traduzido no aparecimento de guias de auto-ajuda que visam promover a saúde mental, bem como cursos de mindfulness. Tem-se verificado o aumento do número de locais de trabalho que tentam fomentar e promover emoções positivas nos seus trabalhadores, muitas vezes com o intuito de aumentar a sua produtividade. Creio que o crescimento deste tipo de produtos e serviços tem os seus méritos. Afinal de contas, as emoções positivas fazem parte de uma boa saúde mental. Além disso, é útil conhecermos dicas e estratégias para uma boa manutenção da saúde mental, nomeadamente a manutenção de uma rotina de sono, uma dieta equilibrada e prática de exercício físico. Para além destas recomendações, a Organização Mundial de Saúde sugere ainda passeios ao ar livre com amigos e família, que se converse sobre os sentimentos com alguém de confiança e que se procure um profissional de saúde, caso apareçam alguns sinais de alarme. No entanto, vejo nesta perspectiva das empresas alguma perigosidade. A ideia de promover a saúde mental através de emoções positivas e do conhecimento de comportamentos saudáveis foca a saúde mental no campo individual. Ou seja, centra a responsabilidade no indivíduo. Por exemplo, se uma empresa promove um curso de estratégias de coping, a responsabilidade pela adoção e manutenção dessas mesmas estratégias passa para o trabalhador. Mas os seres humanos nunca vivem à margem do seu ambiente. Pensemos no seguinte exemplo: dois senhores na meia-idade têm apresentado problemas semelhantes - ambos têm tido dificuldades em dormir, têm-se sentido cansados, com dores e com problemas de concentração. Ambos têm tentado aplicar dicas de promoção da sua saúde mental. O primeiro é gerente numa empresa com bom ambiente, aufere um salário estável e tem um bom suporte familiar e social. O segundo encontra-se desempregado, com a esposa doente e com um senhorio que pretende aumentar o valor da renda mensal. É fácil perceber que o primeiro tem, à partida, mais facilidade em recuperar o equilíbrio do que o segundo. Creio que é importante não perder isto de vista. Tanto os técnicos de saúde mental quanto os cidadãos devem estar conscientes de que a promoção da saúde mental vai muito para além da adoção de estratégias individuais. Infelizmente, a adoção de emoções positivas e de comportamentos saudáveis ainda não nos permite lidar com problemas como a pobreza, a pressão social, a competição ou o bullying. A promoção da saúde mental tem de ser um esforço conjunto, dos indivíduos e da sociedade, com compromisso político e dos contextos sociais, escolares e laborais. Afinal de contas, a "saúde mental é fundamental, [e só] todos juntos vamos lá!" Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós ManifestaMente, Sílvia Conde Como ajudar uma pessoa próxima Preciso de ajuda Comments are closed.
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