Ser é “ter lugar”: que é como quem diz, a permissão para ser nasce connosco. Parece fácil concordar porém tendemos a sentir-nos mais confortáveis junto de quem percebemos como semelhante. Sentirmo-nos ligados a pessoas ou grupos “diferentes” é algo menos imediato… podemos julgá-los e mudar o nosso comportamento sem mesmo nos darmos conta. Todos temos preconceitos implícitos (ou atitudes preconcebidas). Escolher mudar os nossos preconceitos e o que sentimos pode ser um desafio. Porquê? Classificações "nós-eles" tendem a dividir-nos desde que nascemos e à medida que crescemos. O nosso discurso em sociedade promove sentimentos de ameaça e defesa face aos que são diferentes. Por outro lado, vivemos num "mundo global" e numa sociedade mais diversificada do que nunca. Porque é que essa diversidade é importante? Diversidade refere-se tanto às diferenças que nos ajudam a ver-nos como pessoas distintas, quanto às semelhanças que nos ajudam a ter um senso de conexão com outros e com o mundo. Essas diferenças e semelhanças podem ser de idade, raça, religião, género, orientação sexual, condição de saúde, origem étnica, etc; e abrangem ainda valores, normas culturais, modos de processar informação e abordar problemas. Ou seja: as diferenças e semelhanças são aspectos cruciais na construção da nossa identidade e expressão no mundo. A criação de um ambiente que intencionalmente valoriza, respeita e envolve as diferenças é essencial. Uma cultura inclusiva é uma cultura saudável. É aquela em que as pessoas vivenciam conforto, conexão e apoio por parte dos semelhantes e dos diferentes. É precisamente ao existir confiança entre os seus membros que as pessoas se sentem livres para se expressar, haja que discordâncias houver. Aproveitar e potenciar os benefícios criados pela diversidade é essencial. A inclusão é essencial. Mas reunir e misturar pessoas diferentes não é condição suficiente para que a inclusão aconteça. Então, o que nos torna mais inclusivos? Existem pessoas "naturalmente inclusivas", ou seja, orientadas para se relacionarem com pessoas parecidas e diferentes. Essas pessoas têm menos propensão a ser influenciadas por preconceitos. A sua motivação é interna. Gostam de se comportar de modo inclusivo.
Para estarmos intrinsecamente motivados precisamos de autonomia, senso de competência e senso de conexão. Autonomia ocorre quando sentimos que tomamos as nossas próprias decisões; quando escolhemos agir independentemente de influências externas. Competência significa que acreditamos nas capacidades que nos permitem lidar com uma situação, por exemplo, a de nos relacionarmos com pessoas muito diferentes. Conexão é, como diria Kohut, a sensação de ser um “humano entre seres humanos”, o que nos faz sentir ligados aos outros. Uma das principais causas dos problemas de saúde mental é a ausência de um senso de pertença. O isolamento e solidão vêm desse senso de desconexão. Já quando falamos de comportamento, falamos de aprender, de treino, esforço e investimento para mudar. Falamos do nosso poder pessoal para mudar estereótipos, preconceitos, estigmas. Falamos de ampliar modos de estar no nosso dia-a-dia e de contribuir para uma sociedade e cultura mais saudáveis. Compreender modos de estar e ser que promovam a inclusão e a diversidade, recorrendo a motivações internas e não a pressões externas pode ser uma forma poderosa de promover a mudança e de lutar contra o preconceito e o estigma. Como podemos aprender a promover essas qualidades em nós para, por sua, vez, promover a inclusão e a diversidade? Fica a reflexão de fim-de-ano, no artigo de 2020 tentamos dar respostas. Diferentes pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Belina Duarte Os comentários estão fechados.
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