Celebrar as mulheres que somos. Celebrar os diversos papéis que assumimos. Celebrar as nossas forças e os nossos esforços pessoais e sociais. E, nas presentes circunstâncias, celebrar tudo aquilo que, por estes dias, mantemos a funcionar da melhor forma que sabemos.
Uma pandemia não é brincadeira. Estarmos confinados é necessário, mas difícil. Acumular diversas funções, e papéis, pode ser esgotante de formas que nunca antecipámos ou, sequer, sabemos lidar de forma construtiva. Nunca estivemos tão próximos, durante tão longos períodos de tempo, daqueles com quem escolhemos viver. Em simultâneo, nunca nos sentimos tão assoberbados por tudo o que nos rodeia. Nunca estivemos tão limitados de movimentos e, ao mesmo tempo, nunca havíamos tido a oportunidade de nos esticar tanto para chegar a tantos lados, em simultâneo. Ser mulher durante uma pandemia Sim, somos mulheres e, durante a maior parte das nossas vidas aprendemos a fazer várias coisas ao mesmo tempo (olá, multitasking!). Mas, mesmo para uma Mulher, isto começa a ser ridículo! Temos empregos formais; trabalho doméstico com fartura; filhos para cuidar, educar, ensinar e entreter; conflitos para gerir e minorar; saudades com que lidar; múltiplas e constantes decisões a tomar; e ainda temos de cuidar de nós próprias, durante todo este processo (ou devemos começar por isto). Sim, em confinamento poupamos em tempo de deslocações de/para o local de trabalho. Poupamos em preocupações de outros géneros. Poupamos custos diversos associados à subsistência fora de casa... Mas, perdemos a Liberdade percepcionada. Tivemos de reconfigurá-la. E, por estes dias, precisamos rever, e encaixar de outras formas, aquilo que acreditávamos saber sobre ela. Com tudo isto a exercer pressão, como cuidar de nós? Sim, um banho de imersão pode ajudar... por trinta minutos. Mas, quando saímos da casa-de-banho, temos o triplo dos brinquedos espalhados, alguma nódoa negra a considerar e muito mau feitio alheio para encaixar. Falar com alguém pode ajudar. Recorrer aos contactos de emergência familiares ou a amigos pode ajudar. Pedir apoio formal, aos profissionais da área da saúde mental, ajuda com certeza. E, respirar. A mim, ajuda respirar fundo. Meditar. Afastar-me da comoção dos dias de confinamento, descobrindo aquele período do dia em que não tenho companhia... digamos que acordo muito cedo. O que também me ajuda é escrever. Escrevo muito. Escrevo tudo o que me vai no coração com a certeza de que não é para ser partilhado. Com aqueles que coabitam comigo, procuro dividir tarefas e responsabilidades. Ouvir e partilhar como me sinto, e como nos podemos ajudar. Identificar os limites que nos sirvam a todos, da melhor forma possível. Tento focar-me nos bons momentos e não dar desmesurado valor a birras... de qualquer um de nós. E, falho redondamente com grande frequência. Mas, recebo pontinhos por tentar! Tudo passa E, quando nada parece funcionar, procuro dar tempo ao tempo. Relembrar porque escolhi esta vida, com estas pessoas. Recordar os sentimentos bons que elas me proporcionam... e, respirar. Tudo passa. À sua maneira, mas tudo passa. Também este confinamento irá passar. Queremos sair dele fortalecidas. Mais resilientes através das relações que vivemos, com aqueles com quem escolhemos viver. Acima de tudo, se aprendi qualquer coisa neste tempo de pandemia foi: é possível reaprender novas formas de viver e celebrar que estamos vivas, mais adaptadas, resilientes e dinâmicas. Confinadas, estamos a treinar o dinamismo! Este mundo é mesmo feito de contradições absurdas e necessárias. Mesmo que leiam isto já depois do Dia Internacional da Mulher, comemorem com algo simbólico. Um telefonema, um e-mail especial, umas palavras num papel... algo que vos relembre que é possível celebrar, ser resiliente e prosperar. Afinal, o papel da Mulher na sociedade sempre assentou em Resistir e em Lutar. Feliz Dia da Mulher! ManifestaMente, Sara Farinha Comments are closed.
|
Categorias
Tudo
Histórico
Janeiro 2025
|