Se pensarmos no que nos proporciona bem-estar, ocorrem-nos quase sempre elementos internos - sentimentos, relações ou realizações pessoais. Há, no entanto, outros elementos que podem aumentar o nosso bem-estar e, consequentemente, ajudar-nos a proteger a nossa Saúde, movendo-nos para fora de nós, o que por vezes é difícil. Quando os desafios que enfrentamos são significativos, encontramos outras fontes de bem-estar.
Como o Universo, espaço e tempo estão entre os pilares essenciais da existência humana. Porém, a comparação com o Universo pode não ser muito protetora. Se infinito é uma noção que associamos ao Universo, nada está mais longe do que somos. As nossas limitações ditam que sobrevivamos apenas num espaço conhecido, a Terra, com a finitude à espreita. Quanto ao tempo, a atenção consciente e plena no “agora”, o foco no momento presente, pode ser um recurso importante, aliviando alguma ansiedade em relação ao futuro e prevenindo a evocação constante de angústias do passado. E o espaço? Ocorre-nos a noção de lugar, essa partícula do espaço ao qual damos significado e que pode ser tão importante ao ponto de contribuir para a nossa identidade, seja uma rua, um bairro, uma terra, uma cidade, um país ou mesmo uma paisagem (Tuan, 1977). A ligação que estabelecemos com alguns lugares foi descrita como um processo análogo à vinculação que estabelecemos com figuras de referência. Assim, a perda de uma referência "espacial” pode implicar processos de luto e sofrimento significativo, como em casos de saídas forçadas. Além de contribuir para nos ajudar a definir quem somos, o espaço onde nos movemos influencia também como nos sentimos. Sabemos que os lugares podem desencadear estados de stress e de sobrecarga sensorial, especialmente espaços urbanos, ou emocional, se ligada à memória de experiências desafiadoras. Por outro lado, o impacto positivo da natureza, de espaços verdes ou “azuis” (presença de corpos de água, como mares ou lagos), tem sido amplamente estudado. A APA, a American Psychological Association, apresenta dados extraídos de diversos estudos que relacionam experiências na Natureza com melhorias na atenção, redução de stress, redução no risco de problemas de saúde mental e mesmo uma maior propensão para atitudes de empatia e cooperação. Quase imediata e sensorialmente, a Natureza induz-nos estados benéficos: a contemplação de paisagens deslumbrantes, os cheiros diversos que a Natureza nos proporciona, desde perfumes florais à terra molhada, o toque na areia ou na relva, os sons de cantares mais afinados do que o de muitos de nós, do vento sussurrante, ou do majestoso mar, despertam-nos os sentidos e a sensação de conexão. Esta disponibilidade para apreciação da beleza à nossa volta pode resultar em emoções protetoras como a gratidão e, para algumas pessoas, a transcendência (https://greatergood.berkeley.edu). Tendo isto em mente, aproveitemos o que a primavera nos proporciona e saiamos de casa. Experimentemos percursos novos, mesmo que vivamos numa cidade. Em Portugal, temos a sorte de ter o Oceano um pouco por todo o lado. Temos árvores, jardins nas cidades e um nascer e pôr do sol todos os dias. Mesmo que à nossa volta a paisagem não seja de postal, há sempre beleza, algum verde e água. Cuidar da nossa saúde mental passa também pelo exercício físico, por isso, aproveitemos os lugares que habitamos e que habitam em nós e, porque não, regressemos aos lugares onde fomos felizes. Esta é, possivelmente, a melhor forma de celebrar o regresso da estação que nos relembra o desabrochar da vida, a primavera: aproveitando os dias maiores e as temperaturas mais amenas para vivências fora de casa e para lá dos ecrãs. Lá fora, é onde podemos estar melhor. Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Raquel Monteiro Referências: Tuan, Yi-Fu. 1977. Space and Place: The Perspectives of Experience. Minneapolis: University of Minnesota Press, 235 pp. Nurtured by nature (apa.org) Why Is Nature So Good for Your Mental Health? (berkeley.edu) Comments are closed.
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Outubro 2024
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