Férias de Verão sem restrição – uma nova era?

Chegaram finalmente as férias grandes das nossas crianças e adolescentes. As férias deste ano são ainda mais especiais: são as primeiras (quase) sem restrições, desde o início da pandemia e surgem no fim de um ano letivo muito exigente. Este foi o terceiro ano letivo atingido pelas medidas de luta contra a pandemia, e desde janeiro os jovens tiveram apenas uma semana de férias. É então altura de respirar fundo e desfrutar da melhor forma estes meses de pausa.

De que forma devemos então aproveitar estas férias?

A pandemia veio restringir alguns recursos de promoção de saúde mental dos jovens. A diminuição dos contactos e relações sociais, a interrupção de atividades extracurriculares, o aumento do abuso de ecrãs, as mudanças constantes da rotina e a incerteza permanente trouxeram desafios adicionais aos jovens e às suas famílias.

Estas são as férias em que podemos tentar trazer a adolescência de volta. É urgente viver. Recomenda-se ar livre, atividades lúdicas, desportivas e sociais. É importante cultivar as experiências que contribuem para a nossa  saúde mental, de forma a  que a capacidade de lidar com os desafios do próximo ano letivo seja maior e mais saudável.

A fazer

• Atividade Física

É mais do que reconhecido o papel da atividade física na promoção da saúde mental e até na intervenção em quadros de ansiedade e depressão ligeiros. Muitas destas atividades foram interrompidas durante a pandemia, com um impacto importante, mas frequentemente negligenciado nos jovens. Que se aproveite, então, este verão, para se mexerem e, de preferência, acompanhados.

• Convívio

Somos seres sociais e a importância dos nossos pares é particularmente importante durante a adolescência, quando estamos a descobrir quem somos. E precisamos do outro perto, precisamos do colo e do toque, precisamos do corpo e de saber relacionar-nos com o corpo do outro. Que se realizem os amores de verão, os reais, de pele na pele e olhos nos olhos (com as precauções devidas, claro).
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• Descanso

 O sono é frequentemente negligenciado. Sabemos que os adolescentes portugueses dormem pouco , o que influencia diretamente as suas capacidades académicas, sociais e emocionais. O uso de ecrãs à noite, com reconhecido impacto na qualidade do sono, é também a regra. Que se aproveite então as férias para descansar muito e reformular os hábitos de sono.

• Família

Um dos maiores fatores protetores para a saúde mental dos jovens é uma relação positiva com os seus cuidadores e a própria saúde mental destes. Não são só os jovens a precisar de férias. Os desafios contínuos da pandemia continuam a afetar as famílias. Que consigam, então, algum momento de pausa e convívio conjunto, que se reencontrem e desfrutem da companhia uns dos outros.

A evitar
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• Trabalhos escolares

As férias não são para aproveitar e recuperar matéria. É agora tempo de viver experiências longe dos livros escolares,  em vez de adquirir conhecimentos académicos atropelados pelas restrições da pandemia. Se não cuidarmos do resto primeiro, não será por perpetuar o período de trabalho que as crianças e os jovens aprenderão mais e melhor. Sabemos intuitivamente disto, mas culturalmente continuamos a insistir no contrário.​

• Solidão

É bom podermos desfrutar apenas da nossa companhia e aborrecermo-nos para,  através disso, podermos descobrir novas formas de estar. No entanto, a solidão pode espreitar e contaminar a saúde dos nossos jovens. Com frequência essa solidão é compensada pelo uso de ecrãs e redes sociais. Este é um período crítico para rever as regras de cibersegurança e saber qual o papel dos jovens e dos cuidadores na prevenção de exposição a conteúdos inapropriados e perigosos.

• Cuidado com os consumos

Já sabemos que temos de ter atenção ao consumo de álcool e drogas. Mas hoje em dia precisamos de uma atenção especial para o uso de ecrãs. Durante a pandemia, pedimos aos jovens para ficarem em casa e comunicarem por computador e agora torna-se difícil reverter um uso com características aditivas e por vezes prejudiciais. É preciso encontrar algo que substitua a mesma satisfação. E isto pode fazer-se através de tudo o que foi referido nos pontos anteriores.

Aproveitem muito as férias. E que se aproveite também para recordar o que aprendemos com a pandemia. Que a prioridade continue a ser a saúde, física e mental, e que se reconheça a importância da relação, da atividade física, das atividades de grupo. E que a escola seja novamente um espaço de aprendizagem e crescimento e não de avaliação. Somos bem mais que os números na pauta.

1. Gaspar de Matos, M., et al. Os adolescentes portugueses dormem pouco e bem, ou
pouco e mal? E então?. Revista Psicologia da Criança e do Adolescente. 2019. Vol 10,
n1: P159-71
2. Hysing, M. et al. Sleep and use of eletronic devices in adolescence: results from a large
population-based study. BMJ Open. 2015. 5(1):e006748
3. Internetsegura.pt
4. Wells, G., et al. Facebook Knows Instagram Is Toxic for Teen Girls, Company
Documents Show.The Wall Street Journal. 2021. at:
www.wsj.com/amp/articles/facebook-knows-instagram-is-toxic-for-teen-girls-
company-documents-show-11631620739

Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós,
ManifestaMente, Ana Teresa Prata