Foi difícil. Estávamos entorpecidos, pois iríamos ajudar e em breve estaria “tudo bem”. Um ano depois aqui estamos, na mesma batalha, a aproveitar a pausa de almoço apenas para respirar e beber água.
O posto da triagem passou a ser uma batalha diária onde a principal função é acalmar quem recorre aos nossos serviços e, acima de tudo, a família que acompanha mas não pode entrar. A minha equipa é constituída por 17 elementos, e nenhum de nós está a sentir isto da mesma maneira. O estado de saúde mental de cada profissional de saúde não pode jamais ser generalizado. Preferíamos estar perto da família, mas esta foi a profissão que escolhemos, aqui, dentro do hospital. Há dias mais cinzentos, o que nem sempre é fácil de desvendar quando a boca e os olhos dos nossos colegas estão cobertos por uma máscara. Temos de comunicar através de outros sinais. Se hoje aquele colega só consegue dar 40%, nós precisamos de dar 60%; 70% se necessário. Amanhã poderemos ser nós os 40%, ou mesmo os 30%. Nunca a expressão “sentimento gera sentimento” fez tanto sentido. O utente com a atitude mais ríspida que possa recorrer ao hospital fica desarmado quando entende que estamos a fazer o nosso melhor para ajudar. É esse momento que nos torna verdadeiros profissionais de saúde, em busca de uma excelente prestação de cuidados. Entender e obliterar tudo o que se passa à nossa volta permite-nos transmitir segurança, tranquilidade e apoio. Esta mensagem não é nova; está em todo o lado. Mas não é por isso que torna o nosso dia-a-dia mais fácil. O stress e a sobrecarga não desaparecem mesmo que lá fora se saiba o que se passa dentro do hospital. Ainda estamos aqui. Tentamos adotar estratégias: uma delas falar com colegas que estejam a passar pelo mesmo que nós. Existem diferenças na estrutura onde exercemos, existem cargas de trabalho diferentes, mas ainda assim somos todos colegas. Há uma relação de simbiose. A quem lê, repetimos o pedido: protejam-se, entendam os sintomas e contactem as linhas de apoio fornecidas pelas instituições de saúde, cuja porta de entrada continua a ser a linha SNS 24: 808 24 24 24 (outros recursos aqui). Enquanto isso, deste lado, continuaremos a encontrar motivação perante toda esta dificuldade. Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Patricia Taveira Comments are closed.
|
Categorias
Tudo
Histórico
Outubro 2024
|