Como estamos? É amplamente reconhecido o impacto do confinamento (quarentena ou isolamento social) por doenças infecciosas na saúde mental (1). Segundo a investigação realizada até à data, os sintomas/queixas reportados mais frequentemente são: tristeza, ansiedade, zanga, irritabilidade, medo, solidão, tédio, insónia e baixa autoestima (2, 3). Neste questionário recorremos à escala GP-CORE, que avalia o nível de sofrimento psicológico, através de um resultado numérico de 0 a 4, em que 0 corresponde a um estado de maior bem-estar e 4 um estado de sofrimento psicológico intenso (4). Quando analisámos os resultados do GP-CORE das pessoas que responderam ao nosso questionário, obtivemos uma pontuação média de 1,4. Se compararmos com os dados da investigação, este resultado é superior à média da população em geral (1,04). O facto de ter sido obtida uma média GP-CORE superior à esperada, sugere que a saúde mental dos portugueses pode, de um modo geral, estar abalada(4), durante este período de pandemia e confinamento. Analisando a distribuição das várias pessoas que responderam pelos vários patamares da escala GP-CORE, constatamos que apenas 24,8% das pessoas que responderam se encontram abaixo de 1. Assim 75,2% dos participantes estão num estado de sofrimento psicológico acima do que é habitual para a população em geral e 23,6% dos participantes reportaram níveis de sofrimento psicológico superiores a 2, o que corresponde a um nível de sofrimento psicológico moderado a grave. As pessoas com diagnóstico de doença mental no passado e na atualidade, apresentam a média mais alta no instrumento GP-CORE (média 1,9), o que traduz maior sofrimento psicológico do que aquelas que nunca tiveram um diagnóstico de doença mental (média 1,4). Os jovens (18-29 anos) apresentam valores médios de GP-CORE superiores (média 1,7) comparando com as pessoas com idades mais avançadas. Quanto à situação profissional, os estudantes são os que cotam valores médios mais elevados de sofrimento psicológico (média 1,7), seguidos das pessoas desempregadas (média 1,6), os trabalhadores por conta própria (média 1,5) e por último os trabalhadores por conta de outrém (média 1,3). O que nos preocupa?Nesta secção agrupamos os resultados em: “preocupações comigo”, “preocupações com pessoas próximas”, “preocupações com a sociedade” e ainda “preocupação geral” que traduzimos numa escala númerica, de 0 a 4, em que 0 corresponde a “nada preocupado” e 4 a “muitissimo preocupado” (excluindo-se as respostas “não se aplica”). Analisando todos os itens globalmente, obteve-se a média referente à “preocupação geral” de 2,3. Quando analisamos detalhadamente os três tipos de preocupações, constatamos, que a “preocupação com pessoas próximas” surge em primeiro lugar (média 2,9), seguida da “preocupação com a sociedade” (média 2,4) e por último a “preocupação comigo” (média 1,9). Analisando a distribuição das pessoas que responderam nos vários patamares do questionário de preocupação, constatamos que apenas 3,1% se encontram abaixo de 1; 29,2% situam-se entre o 1 (inclusive) e o 2 (exclusive); 47,7% encontram-se entre o 2 (inclusive) e o 3 (exclusive); e 20% estão nos níveis mais altos de preocupação (igual ou acima de 3). Neste âmbito destacamos que 70% das pessoas responderam que estão muito ou muitíssimo preocupadas com “o risco de alguém importante para mim ficar doente”; 67.7% estão muito ou muitíssimo preocupadas “se as pessoas importantes para mim estão a proteger-se corretamente”, 63,2% com “o risco de alguém importante para mim morrer” e 57,3% com “a saúde mental de pessoas próximas”. Os grupos que reportam maiores níveis de preocupação são aqueles com diagnóstico de doença mental no passado ou atualmente e ainda aqueles que têm alguém próximo infetado com COVID. O que andamos a fazer?Diz a investigação científica feita até à data que as estratégias mais eficazes para diminuir o impacto negativo do confinamento na saúde mental na população em geral são: manter tanto quanto o possível as rotinas diárias, manter os contactos sociais à distância, limitar o contacto com informação sobre pandemia, recorrer a fontes de informação fidedignas, praticar atividade física, praticar técnicas de relaxamento, dedicar tempo a hobbies, entre outras (5, 6). Nesta secção do questionário explorámos as estratégias as pessoas têm adotado (ou não) para mitigar os efeitos negativos do confinamento na sua saúde mental, construindo uma escala de 0 a 4 de ‘Actividades Protetoras da Saúde Mental’, em que quanto maior o valor obtido, mais as actividades protectoras são desenvolvidas. Para as pessoas que responderam ao questionário obtivemos uma média de 2,3. Analisando a distribuição das pessoas que responderam nos vários patamares do questionário de atividades protetoras da saúde mental, constatamos que apenas 0,5% se encontram abaixo de 1; 24,7% situam-se entre o 1 (inclusive) e o 2 (exclusive), 55% encontram-se entre o 2 (inclusive) e o 3 (exclusive); e 19,8% estão nos níveis mais altos de de actividades protetoras da saúde mental (igual ou acima de 3), como se pode constatar na figura seguinte. Logo, cerca de 75% dos participantes realizam frequentemente atividades protetoras da saúde mental.
11,8% das pessoas mencionarem estar a fumar mais ou consumir mais drogas, o que deve ser olhado com atenção redobrada, pois os estudos indicam um aumento do risco de abuso de substâncias em períodos de quarentena/isolamento (2). Ainda assim, de um modo geral, as pessoas parecem estar a assumir comportamentos e estratégias protetoras à sua saúde mental, ficando a dúvida se tal será suficiente para mitigar o impacto negativo do confinamento. O Relatório Síntese com todos os resultados que obtivemos está disponível para download aqui. Já reunimos muita informação sobre como cuidar da nossa saúde mental em tempo de pandemia, esses artigos estão disponíveis aqui. Juntos pela saúde mental de todos nós ManifestaMente Bibliografia
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