Segui para as urgências mais próximas, onde nada me foi explicado, apenas foram feitas análises e disseram "está tudo bem". Passaram-se semanas e um segundo episódio aconteceu. Novamente, "está tudo bem". Mais tarde, após contactar a minha médica de família, surgiram as palavras “Ansiedade” e “Ataques de pânico”, seguindo-se uma fase de negação. Durante meses após esta realidade não aceitei que sintomas físicos pudessem ser só "coisas da minha cabeça", como muitos diziam. Na minha visão tinha algum problema sério de saúde que estava apenas a ser desvalorizado. Mal sabia eu que já era a própria ansiedade a tomar conta de mim. Fiz mais exames e, novamente, o "está tudo bem".
Procurei um psicólogo que me fez realmente ver que sim, são coisas da nossa cabeça e que devem ser vistas como é vista uma dor de dentes ou um outro problema físico. Fiz terapia durante vários meses, sendo que o meu objetivo era "acabar com a ansiedade". Objetivo errado. Mais tarde percebi que o objetivo principal teria de ser aceitar que há ansiedade e depois aprender a lidar com ela. Se ela desaparece? Não. E ainda bem: porque precisamos dela. Durante este processo, e depois de aceitar que a ansiedade de facto existia, veio o medo de surgir uma crise em qualquer lado com qualquer pessoa. Diminuí os meus contactos, chegando a inventar muitas vezes desculpas para não lidar com pessoas pois o meu receio era “vai acontecer novamente e vais acabar por estragar o jantar, o lanche ou um simples café”. Arrisquei aparecer algumas vezes, pois havia dias que achava que isto tinha desaparecido, mas ia sempre com o pensamento “tens de estar atenta, qualquer sintoma sais para não incomodar”. Mas isso levava-me a não disfrutar de nenhum dos convites que eram feitos. Sim, vai haver dias em que vais achar que tens tudo controlado e, de repente, algo surge e todo o teu trabalho para gerir a ansiedade é posto em causa. Pensei que isto nunca iria ser compreendido e que as pessoas me iriam definir como fraca, pois os comentários eram sempre “ah, estás sempre ansiosa”, “stressas com tudo”, “ não sei porque estás assim”, “tens tudo para estar bem, não estás porque não queres”... entre muitas outras. Como o passar do tempo, e há medida que fui lendo e percebendo mais sobre o que é e como funciona a ansiedade, o pensamento “ninguém vai compreender” mudou para “há mais pessoas com este tipo de problemas do que eu pensava, então porque é que isto não é falado?!” Já são quase dois anos em que lido com esta condição, sendo que todos os dias são pequenas vitórias e isso não faz de nós mais fracos. Que este testemunho, incentive o pedido de ajuda. Foquemo-nos nas doenças mentais, como a ansiedade e a depressão, pois nos dias de hoje ainda há um enorme estigma sobre esta área da saúde. Além disso, com aquilo que estamos atualmente a atravessar, estamos todos expostos à possibilidade de alguém próximo ou até mesmo nós passarmos por um episódio desta dimensão. Por isso: peçam ajuda. E não, não é só da nossa cabeça! ManifestaMente, Irina Rio Comments are closed.
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Setembro 2024
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