Rapidamente as televisões, jornais e redes sociais se apressaram a divulgar quem era o rapaz em questão – de onde era natural, o que gostava de fazer e que tipo de pessoa era. A par disto, alguns meios de comunicação divulgaram ainda que teria sido diagnosticado com um problema de saúde mental. O debate passou a centrar-se neste diagnóstico e na possibilidade de o mesmo explicar os atos que supostamente haviam sido planeados.
É frequente tentarmos arranjar uma explicação médica ou psiquiátrica para atos violentos que temos dificuldade em compreender. Mas será que devemos fazê-lo? Há muito que a doença mental é associada à imprevisibilidade e ao risco de violência, o que alimenta o estigma de que quem tem um diagnóstico psiquiátrico é automaticamente uma pessoa perigosa. Frequentemente, esta ideia é reforçada pelos media, que têm tendência a sensacionalizar os casos de crimes cometidos por pessoas com doença mental, amplificando os aspetos ligados à doença e, menos frequentemente, ignorando os dados estatísticos que nos dizem que a maioria dos crimes são cometidos por pessoas sem qualquer doença mental. Na verdade, os estudos feitos nesta área parecem mostrar-nos que as pessoas com doença mental constituem uma fração mínima de todas as pessoas que cometeram um crime violento. Em contraste, as pessoas com doença mental têm uma probabilidade aumentada de serem, elas próprias, vítimas de atos violentos. Alguns sintomas, como uma visão comprometida da realidade e dificuldades na organização e planeamento de tarefas, ou outras dificuldades resultantes da doença, como depender financeiramente de terceiros, podem comprometer a capacidade de uma percepção adequada dos riscos que correm e torná-las mais vulneráveis a situações de violência. Além disto, a vivência de situações traumáticas pode ainda agravar os sintomas e a evolução da doença e complicar o tratamento. Em suma, apesar de terrorismo e doença mental não serem, na maioria dos casos, elementos da mesma equação, algumas investigações com base em casos semelhantes parecem indicar que, na maioria das vezes, os autores comunicaram de alguma forma as suas intenções - o que nos deve fazer pensar em formas de prevenir um desfecho com o pior cenário. Reconhecer sinais de alarme e saber onde e como pedir ajuda são alguns exemplos. Em Portugal, apesar de estarmos longe da realidade americana, onde depois do ataque de Columbine, em 1999, que culminou na morte de 11 pessoas, pelo menos mais 11 ataques semelhantes foram concretizados, podemos aproveitar o debate em torno desta notícia para relembrar algumas mensagens importantes: -A maioria dos crimes, incluindo os ligados ao terrorismo, não são cometidos por pessoas com doença mental -As pessoas com doença mental são, mais frequentemente, vítimas de violência, o que pode contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de sintomas e dificultar o tratamento -Sempre que há uma notícia sobre um ato violento ou de terrorismo, devemos evitar partilhar notícias que exponham detalhes do crime ou da vida do suspeito, incluindo possíveis diagnósticos Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Miriam Garrido Comments are closed.
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Janeiro 2025
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