É a ginasta que, chegada a uns Jogos Olímpicos – os segundos em que participa – a decorrer em condições verdadeiramente ímpares e, antes de competir nas fases finais, recua um passo atrás e diz: “eu não estou bem, vou afastar-me e dar prioridade à minha saúde mental”.
Talvez porque estamos todos a recuperar (ou a tentar) de uma pandemia há mais de um ano, talvez porque já percebemos que não vai ficar tudo bem e temos de rever as nossas estratégias de coping e adaptá-las a uma nova realidade, mas as palavras de Simone ecoaram um pouco por todo o mundo, dando novo fôlego ao debate sobre a saúde mental e à prioridade que lhe damos nas nossas vidas apressadas. Nem todos nos podemos relacionar com o contexto, muito particular, que é o desporto de alto rendimento. Não sabemos o que significam todos os nomes de saltos e técnicas da ginástica artística, mas, de uma forma ou de outra, todos sabemos o que foi viver numa bolha, onde dentro dela a pressão aumenta a cada dia e, fora dela, o mundo e aqueles de quem gostamos, parecem cada vez mais distantes. Simone veio também lançar a ideia de que uma vencedora, alguém para quem olhamos com olhos de admiração e absoluta veneração, é também alguém que, a determinado momento, pode olhar para si e para a situação que a rodeia e dizer: “se o meu corpo e a minha mente não estão em sintonia, o melhor é não continuar”. Será Simone a primeira atleta a sentir esta pressão e a ter consciência de que a sua saúde mental poderá estar no limite? Muito provavelmente não. Mas foi a primeira a falar abertamente desta situação, a recuar numa posição de vantagem perante si própria e, no fundo, a mostrar-nos que os verdadeiros heróis são os de carne e osso. Espero que os tempos em que vangloriávamos os atletas que saíam de competição lesionados gravemente, física ou mentalmente por se terem colocado em situações de risco, conscientes de que o faziam, apenas em nome do estoicismo inconsequente, estejam ultrapassados. Tenho esperança que Simone tenha aberto caminho a uma nova era. Uma era em que admiramos quem conhece os limites do seu corpo e da sua mente e escolhe sair de pé, respeitando esses limites. Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Miriam Garrido Os comentários estão fechados.
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Setembro 2024
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