Parece longínqua a vida pré-covid. Os últimos tempos foram realmente extraordinários e intensos. Atravessámos montanhas de emoções, sem nunca sabermos bem quando iríamos chegar ao destino. Nem exatamente que destino seria esse.
O medo. A tristeza. A revolta. A esperança. O alívio. O medo outra vez. 1ª vaga, 2ª vaga, 3ª vaga, 4ª vaga, 5ª vaga...Alpha, beta, gamma, delta, ómicron. O loop das vagas, o loop das novas variantes, o loop das emoções difíceis de conter. Perdemos o fio à meada e por vezes perdemos o pé numa pandemia que ninguém pediu, mas pela qual todos passamos. A pandemia atravessou a vida de todos, mas não da mesma maneira. É importante sublinhar que não estamos todos no mesmo barco, não. Os mais vulneráveis ficaram ainda mais vulneráveis. A polarização fraturou ainda mais um tecido social já frágil, polarizando as opiniões e transformando a discussão sobre a pandemia num campo minado, onde as redes sociais servem de caixa de ressonância para a desinformação. A ciência foi e continua a ser posta à prova, mostrando todas as suas virtudes, incluindo a capacidade de assumir sempre as suas limitações. A dificuldade em explicar à população em geral conceitos como risco, transmissibilidade, carga viral, r(t), estudos randomizados ou amostra representativa ilustrou a importância da comunicação em saúde e mostrou como a literacia em saúde pode contribuir para a coesão social. A pandemia tem exigido um equilíbrio de uma complexidade descomunal, no qual as decisões são intersectadas por questões de saúde, económicas, políticas e sociais. A pandemia confronta-nos com a nossa vulnerabilidade e a necessidade de repensar prioridades e aprender a viver de outra forma. Mostra-nos um mundo interligado por cadeias de transmissão, mas também por linhas de solidariedade, criatividade e apoio. Tenho a profunda convicção que o tempo nos vai ajudar a olhar para este período histórico com orgulho de como, coletivamente, fomos capazes de nos adaptar e responder pela saúde pública. A adaptação é de facto a grande lição da pandemia. Assim como o vírus muta e se adapta às condições existentes, também nós fomos e continuamos a ser capazes de nos adaptar ao meio, às condições e contingências da pandemia. Esta capacidade de adaptação é um ingrediente fundamental da nossa saúde mental, e que é passível de ser trabalhado e aperfeiçoado com o tempo e vontade. Continuaremos, então, o nosso caminho. Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Beatriz Lourenço Comments are closed.
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Novembro 2024
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