Já na fase atual de resolução da situação pandémica, somos agora confrontados de forma inesperada com a invasão russa da Ucrânia, espoletando-se um cenário abrupto de Guerra, com impacto destruidor direto nas vidas das comunidades afetadas diretamente pelo conflito. Assistimos, mesmo à distância, ao evoluir do conflito através dos meios de comunicação social (notícias televisivas, redes sociais, jornais/revistas...), pelo que é frequente empatizarmos com as vítimas e as suas famílias, bem como partilharmos um sentimento generalizado de injustiça e humanidade. Esta exposição às notícias de Guerra poderá trazer consequências negativas para a nossa Saúde Mental, designadamente o aumento da vulnerabilidade face à incerteza futura relativamente à evolução desta crise, a par de maiores dificuldades de concentração/atenção e de regulação emocional (gerir sentimentos de irritabilidade, impotência, medo, angústia, tristeza, entre outros). Assim, o conflito em curso tem igualmente um impacto direto em cada um de nós, com possíveis implicações a nível pessoal e também no âmbito laboral. Neste sentido, considera-se como boa prática de Saúde Mental, por parte das entidades empregadoras, prestar uma maior atenção aos trabalhadores durante este período, uma vez que a vivência de uma nova crise contribui para o desgaste em termos profissionais. Poderão encontrar-se mais vulneráveis os trabalhadores que tenham amigos/família na Ucrânia, Rússia ou em países fronteiriços (Polónia, Moldávia, Roménia...), bem como aqueles com problemas de saúde psicológica prévios. Como tal, recomenda-se o reforço das ações de avaliação de saúde mental em contexto organizacional para efeitos de monitorização e suporte, bem como o encaminhamento para cuidados de saúde especializados em caso de necessidade. As políticas de promoção da Saúde Mental no âmbito profissional poderão, assim, prevenir o aparecimento de quadros específicos associados à exposição a cenários de Crise/Guerra. Do ponto de vista clínico e com possível impacto em termos da aptidão laboral, destacam-se os seguintes: Perturbação Aguda de Stress – Desenvolvimento de sintomas entre três dias a um mês após a vivência da situação, que envolvem frequentemente uma resposta de ansiedade face à ocorrência. Perturbação de Adaptação - Existência de sofrimento exacerbado durante um período de pelo menos três meses após a vivência da situação com impacto em termos do funcionamento pessoal, interpessoal, social e ocupacional do indivíduo. Perturbação de Stress Pós-Traumático - Quadro psicopatológico que se desenvolve aproximadamente três meses após a vivência do episódio e que se caracteriza por lembranças recorrentes, evitamento persistente de estímulos, perturbação do sono, reações dissociativas e mal-estar psicológico geral. Para uma melhor adaptação e priorização de cuidados ao nível da Saúde Mental, a Ordem dos Psicólogos Portugueses lança as seguintes recomendações individuais, a ter em conta perante a vivência deste novo período de crise: - Monitorização da saúde psicológica e bem-estar; - Procura de ajuda especializada em caso de necessidade; - Desenvolvimento de resiliência; - Manutenção de rotinas; - Reforço de relações e da rede de apoio; - Promoção da sensação de esperança; - Apoio e contribuição face a causas; - Evitamento de julgamentos e estereótipos; - Limitação da exposição aos media; - Consulta de fontes de informação credíveis. A prática de autocuidado constitui, assim, uma ferramenta importante para a gestão de emoções de sentimentos em tempos de Crise/Guerra, sendo essencial na promoção e desenvolvimento da resiliência humana. As organizações deverão igualmente considerar, na sua prática diária, a avaliação de riscos para a saúde mental deste conflito a nível individual e coletivo, como forma de contribuir para o bem-estar geral dos seus trabalhadores e da própria sociedade. Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Diogo Gonçalves Comments are closed.
|
Categorias
Tudo
Histórico
Novembro 2024
|