Experiências como o casamento e a maternidade fazem parte da expressão de uma vida “normal” para muitas mulheres, incluindo mulheres diagnosticadas com perturbações mentais. No entanto, neste último caso, o desejo de ser mãe associa-se a dúvidas, receios relativos à própria capacidade e medo do estigma. Muitos destes aspetos relacionam-se com a falsa impressão de que uma mulher com doença mental será necessariamente uma “má mãe”.
A título de exemplo, as representações em televisão e cinema, que se alimentam desta crença e a perpetuam, ilustram mulheres com perturbações mentais como perigosas para os filhos ou incapazes de cuidar dos mesmos. A conceção social dominante é a de que a maternidade e as perturbações mentais são mutuamente exclusivas. A vivência das mães versus o impacto nos filhos Face a múltiplas preocupações por parte da comunidade médica e científica, o corpo de investigação tem-se focado especialmente no impacto dos aspetos psicossociais e biológicos na vida e desenvolvimento dos filhos de mulheres com doença mental. Existiu durante muito tempo – mantendo-se ainda em certa medida – alguma negligência do significado da vivência da mulher com doença mental que é mãe ou deseja sê-lo: quais os seus medos, desejos e necessidades, o que significa para si a maternidade e, com não menos importância, quais os problemas que podem derivar do estigma. Muitas destas mulheres relatam reações negativas face ao seu desejo em ser mães, à gravidez e à maternidade, que não se limitam a familiares e amigos, estendendo-se muitas a profissionais de saúde mental e de saúde materna. Quando procuram aconselhamento em consultas de planeamento familiar são, muitas vezes, confrontadas com uma abordagem focada na contraceção adequada e na prevenção da gravidez. De acordo com a literatura, muitas sentem um receio particularmente acentuado de ser percecionadas como não sendo capazes de prestar cuidados a uma criança ou de perder direitos parentais, sendo frequente a existência de relutância no pedido de ajuda para aconselhamento e ferramentas pessoais de gestão parental. Ainda assim, a maternidade é, em muitas destas mulheres, percecionada como uma experiência promotora de crescimento pessoal e de auto-desenvolvimento e como um evento positivo e enriquecedor – ser mãe surge como um incentivo à recuperação e à manutenção da saúde mental. Tendo como referência o direito à auto-determinação, é fundamental que se construam espaços seguros que permitam a mulheres com doença mental diagnosticada a possibilidade de partilhar experiências relativas à maternidade, sejam positivas ou negativas. Importa também que exista investimento em sistemas de suporte adequados, bem como a sensibilização da população e dos profissionais de saúde, de modo a criar condições para uma mudança no sentido da autonomia de todas as mulheres com doença mental que já são, ou pretendem ser, mães. Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós, ManifestaMente, Patrícia Rico Comments are closed.
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Novembro 2024
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