“(...)Depressão. Só a palavra é suficiente para criar desconforto e medo, porque ninguém sabe bem o que fazer com ela. Admito, é assustador. Os sintomas depressivos mantêm-se muitas vezes ao virar da esquina, aparecendo quando a luz não brilha. E o sol mal brilhou aqui em Dezembro...”
Assim começa um texto meu nunca publicado, que escrevi a 25 de fevereiro de 2020. E apesar da data, nada tinha a ver com a pandemia que se alastrava pelo mundo fora – mas sim com o que que me atingiu de forma inesperada enquanto vivia no norte da Suécia. A Perturbação Afetiva Sazonal (PAS), mais conhecida como depressão sazonal, é uma variante da Depressão Major e da Perturbação Bipolar associada à transição das estações do ano. Ainda que seja uma condição complexa que resulta de uma combinação de fatores, a evidência atualmente aponta para alterações do relógio biológico interno (ritmo circadiano) com origem em desequilíbrios de químicos no nosso cérebro (neurotransmissores), causados pela variação da luz solar. A PAS afeta entre 2 a 5% da população (chegando aos 10% em países a norte, de maior latitude). Pode afetar pessoas de qualquer idade, mas a idade de início é geralmente entre os 18 e os 30 anos, sendo quatro vezes mais prevalente em mulheres. O tipo de PAS mais comum ocorre no outono/inverno quando há menos horas de luz solar, embora algumas pessoas apresentem o padrão inverso. Independentemente do perfil que se observa, os sintomas podem variar muito em termos de gravidade. Os sintomas associados à primeira variante são a tristeza e humor deprimido, fadiga extrema e letargia, perda de interesse ou prazer em atividades anteriores, falta de energia que não melhora apesar do aumento das horas de sono, dificuldades de concentração, aumento de peso devido a excessos alimentares (é normal a pessoa sentir desejos por alimentos ricos em hidratos de carbono e açúcares) e ideação suicida. Já a segunda variante apresenta sintomas como a falta de apetite e perda de peso, insónia, agitação, ansiedade e até episódios de comportamento violento. Ao nível do tratamento, a terapia de luz, a medicação antidepressiva e a terapia cognitivo-comportamental são as opções mais recomendadas (isoladamente ou em combinação) porque existe evidência científica sobre a sua eficácia. Contudo, não existem ainda estudos que sugiram a superioridade de um destes tratamentos em prol dos outros, por isso a escolha deve ser guiada pela situação e preferência de cada pessoa. Além das opções previamente apresentadas, são também recomendadas mudanças ao nível do estilo de vida, como o aumento do exercício físico e da exposição à luz natural. Em Portugal ainda não existem estudos significativos sobre a prevalência da PAS, mas um estudo publicado em 2021 revelou que 12,7% da amostra apresentava sintomas prováveis. Isto poderá ser um resultado surpreendente para quem sabe que o país tem uma exposição solar elevada e clima ameno durante todo o ano, mas não será tão inesperado se tivermos em conta as elevadas percentagens de depressão e ansiedade que a população portuguesa apresenta. Três décadas após as primeiras menções sobre a PAS, esta ainda continua a ser uma perturbação controversa e pouco discutida. À medida que o planeta gira em direção ao equinócio de outono e que os nossos relógios anseiam por voltar atrás, deixo-vos com o recado de que a Perturbação Afetiva Sazonal é mais do que uma “winter blues”, é uma condição real que pode ter manifestações extremamente incapacitantes. A boa notícia é que… pode ser tratada. Estejam atentos aos sinais e peçam ajuda! Recursos importantes: Preciso de Ajuda Ajuda urgente Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós ManifestaMente, Joana Henriques Referências: -Fonte, A., & Coutinho, B. (2021). Seasonal sensitivity and psychiatric morbidity: study about seasonal affective disorder. BMC Psychiatry, 21(1), 317. https://doi.org/10.1186/s12888-021-03313-z -Galima, S., Vogel, R. S., & Kowalski, W. A. (2020). Seasonal affective disorder: Common questions and answers. American Family Physician, 102(11). -Kurlansik, L. S., & Ibay, D. A. (2012). Seasonal Affective Disorder. American Family Physician, 86(11). -Melrose, S. (2015). Seasonal Affective Disorder: An Overview of Assessment and Treatment Approaches. Depression Research and Treatment, 2015, 1–6. https://doi.org/10.1155/2015/178564 -Meyerhoff, J., Young, M. A., & Rohan, K. J. (2018). Patterns of depressive symptom remission during the treatment of seasonal affective disorder with cognitive-behavioral therapy or light therapy. Depression and Anxiety, 35(5), 457–467. https://doi.org/10.1002/da.22739 Comments are closed.
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