Sobrevivi à época festiva, e agora?

Terminou o Natal e o tempo a que muitos chamam “o mais maravilhoso do ano"! Até o cantámos algumas vezes mas, para muitos, esta foi uma época agridoce e perturbadora, começando a sofrer com ela, mesmo antes do início de dezembro... Fosse pela ansiedade de uma agenda demasiado preenchida, fosse pela tristeza ou depressão de nada de novo (nos) trazer... Fosse pelas prendas, embrulhos, festas ou, simplesmente, por nos sentirmos sozinhos e longe do mundo...

As épocas festivas podem ser vividas com alegria e êxtase ou, pelo contrário, com sentimentos de dor ou solidão imensas... Ou porque perdemos alguém querido cuja saudade exacerbou neste tempo ou porque não tivemos família que nos convidasse para estarmos juntos, para nos sentarmos à mesa, a partilhar, a criar memórias... E, ano após ano, vamos esvaziando a esperança de nos sentirmos encaixados na sociedade que constantemente apela ao consumo da perfeição! Queremos este tempo passado, que se calem as músicas de Natal, se retirem as iluminações e os enfeites, se esqueça o fogo de artifício e as fotografias perfeitamente instagramáveis, se arrumem as prendas tão bonitas quando embrulhadas mas tão ridículas quando desvendadas…

Esta pressão para ser alegre e sociável é frequente mas parece ser muito maior no final do ano e desafia-nos a grande gestão emocional (sentimentos de solidão e tristeza por expectativas irrealistas; recordação de momentos felizes passados, contrastantes com os presentes; dificuldades financeiras, dificuldade em estar com “entes queridos”, etc.).

Estes "Christmas-blues", traduzidos por "tristeza natalícia", estando associados a uma fragilidade emocional podem prolongar-se ao longo do ano, se nos focarmos apenas nos problemas pendentes devido a projetos não realizados, podendo gerar emoções pouco positivas e sintomas, como dor de cabeça, perturbações do sono, agitação ou ansiedade, sentimento de culpa, diminuição da concentração e do interesse em atividades outrora prazerosas.

Uma das melhores coisas que podemos fazer por nós é não nos compararmos com os demais, porque cada um tem muito para dar ao mundo... Mesmo que nem sempre saiba como! Também é útil por de lado expectativas exageradas, seja em nós ou nos outros... Devemos sim, propormo-nos objetivos realistas, organizar bem o nosso tempo, definir prioridades, traçar um plano e tentar segui-lo...

Por muito que nos sintamos bem na nossa solidão, não devemos fazer disso um hábito... Estar com amigos, família e colegas ajuda-nos a perceber outros pontos de vista e a ver coisas que, sozinhos, não conseguimos... O mundo, a sociedade, o ambiente, a natureza precisam de cada um de nós! Que tal uma experiência de voluntariado? Ou uma atividade nunca antes experimentada?

Se sentes que precisas de ajuda, começa 2024 a sair desse armário natalino, rasga medos em vez de embrulhos, ousa coragem e grita "Não estou bem!” Porque todos nós, mais cedo ou mais tarde, gritaremos contigo na procura por uma ajuda que nos arranque da tristeza e ajude a reencontrar o lugar a que TODOS temos direito: o da vida plena! Cuidemos uns dos outros e... Bom Ano Novo!

Recursos importantes:
Preciso de Ajuda
Ajuda urgente
​
Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós
ManifestaMente, Ângela Figueiredo

Referências:
-Stanojević, D. Z., & Pavićević, M. S. (2023). Is "Happy New Year and Merry Christmas! for everyone: How we are in the mood during the holidays”. Baština, 60, 549-560. https://doi.org/10.5937/bastina33-43651
-Rebelo, M. (2022). “Christmas Blues: Quando o Natal é a época mais stressante, depressiva e solitária do ano”. Visão. https://visao.pt/opiniao/ponto-de-vista/2022-12-19-christmas-blues-quando-o-natal-e-a-epoca-mais-stressante-depressiva-e-solitaria-do-ano 
-Cerqueira, C. (2019). “Já ouviu falar de Christmas blues?” CUF. https://www.cuf.pt/mais-saude/ja-ouviu-falar-de-christmas-blues