Desde o famoso divã no gabinete, onde o doente se deita enquanto despeja todos os seus pensamentos e emoções, à ideia da administração de medicação com um efeito bastante sedativo ou mesmo o receio associado aos internamentos compulsivos (contra a vontade do doente), são várias as imagens e ideias incorretas que chegam até nós e nos fazem questionar a qualidade e pertinência dos serviços psiquiátricos.
É importante realçar que a psiquiatria é uma especialidade médica, cuja atividade é baseada em evidência científica e, portanto, não menos segura do que qualquer outra área. Não há razão para ter medo! A Associação Americana de Psiquiatria define esta especialidade como sendo o ramo da medicina que diagnostica, trata e previne a doença mental, emocional e comportamental. São exemplos: depressão, distúrbios de ansiedade, esquizofrenia, doença bipolar, distúrbios alimentares, casos graves de burnout, doenças do neurodesenvolvimento (autismo, défice de atenção e hiperatividade), entre outras. O foco do psiquiatra será sempre o doente como um todo, usando uma abordagem holística, que tem em conta as componentes biológica, psicológica e social. Através de um diálogo aberto e inclusivo em que ambas as partes participam ativamente, o psiquiatra vai fazer-nos perguntas sobre os sintomas, o nosso historial médico e pessoal, de forma a formular um diagnóstico. É possível que, em algumas situações, a participação de um familiar/amigo, para obter mais informação, um exame físico mais detalhado ou o recurso a exames de investigação (análises sanguíneas, exames de imagem, etc) sejam necessários para melhor compreender o quadro clínico. O psiquiatra, consoante o diagnóstico, irá certamente discutir opções de tratamento, que podem incluir psicoterapia e/ou medicação, entre outras intervenções, como electroconvulsivoterapia, estimulação magnética transcraniana ou estimulação cerebral profunda. Em certos casos, devido à gravidade dos sintomas, o internamento hospitalar poderá ser sugerido pelo médico. De qualquer forma, este plano de ação será sempre elaborado em conjunto, pesando prós e contras de cada uma das intervenções. Poderá ser ajustado a qualquer altura, de acordo com o nosso progresso, respeitando sempre que possível os nossos desejos e vontades. Não nos esqueçamos que o objetivo principal desta consulta será o nosso bem-estar, ajudando-nos a compreender e lidar melhor com os desafios emocionais, cognitivos e comportamentais que possamos estar a enfrentar. Respondendo à pergunta “e agora?”, algumas dicas para melhor nos prepararmos: fazer anotações sobre os sintomas, preocupações e quaisquer perguntas a discutir com o psiquiatra antes da consulta; durante a consulta, ser verdadeiro e aberto relativamente aos nossos sentimentos e experiências, não devemos ter vergonha ou medo de sermos vulneráveis! E por fim, mas não menos importante, lembrarmo-nos que não estamos sozinhos nesta jornada, que já demos um primeiro (e corajoso) passo nesta nossa caminhada e que o psiquiatra será alguém para ouvir, dialogar e orientar, sem quaisquer julgamentos. Ver também: - Diferentes tipos de psicoterapia: como escolher? - O que acontece num processo de psicoterapia Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós ManifestaMente, Ana Margarida Bastos Referências: -American Psychiatric Association. What is Psychiatry? Disponível em https://www.psychiatry.org/patients-families/what-is-psychiatry -Sartorius N, Gaebel W, Cleveland H-R, Stuart H, Akiyama T, Arboleda-Flórez J, et al. WPA guidance on how to combat stigmatization of psychiatry and psychiatrists. World Psychiatry 2012; 9: 131–44. doi: 10.1002/j.2051-5545.2010.tb00296.x Comments are closed.
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