Inteiremo-nos do seu significado
A derivação alemã do conceito de empatia, “Einfühlung” refere-se a “ein”, referindo-se a “em” e “efühlen” a “sentir”, e, segundo a tradução de autores como Ales Bello e Manganaro, o termo é entendido à luz da palavra grega “empatheia”, em que “pathos” significa “sentir dentro”, “sentir em”. Na língua inglesa, Edward B. Titchener, refere- se a “empathy”, como “à capacidade de conhecer a consciência e os sentimentos das outras pessoas, por meio de um processo de imitação interna”. A filósofa Edith Stein introduz o conceito de empatia para as línguas neo-latinas como um “sentir dentro o outro”, considerando “um ato sui generis, uma vivência própria do ser humano”. Destaca que a empatia “não corresponde a viver de forma originária o que o outro vive, mas a realizar em seu próprio corpo o circuito de sensibilidade da experiência deste outro (...) de acompanhar o circuito da articulação do pensamento do outro”. Acompanhando a herança teórica de Stein, Pezzela define empatia como: “um instrumento natural, imediato, tipicamente humano através do qual se consegue (...) compreender os outros seres humanos, as suas vivências, os seus estados de alma, os sentimentos. Não é uma prática que se aprende ou aplica quando há necessidade, mas é co-natural ao ser humano” Ou seja, a capacidade em reconhecer o outro como “outro eu” e compreender a sua experiência - “aquilo que se vive”. No entanto, convém desde cedo, esclarecer a diferença com o conceito de simpatia – que, de outro ponto de vista, se considera como uma reação de ânimo, ou seja, um determinado estado de espírito ou humor. No entender de Ales Bello, a empatia tem um carácter imediato, “sentimos imediatamente que estamos em contato com outro ser humano (...) reconhece(mos) um outro semelhante, não idêntico (...) captamos que estamos diante de seres viventes como nós”. Numa perspetiva cognitivo-comportamental, autores como Eisenberg e Hoffman e Davis acrescentam ao construto de empatia uma dimensão afetiva-cognitiva-motivacional, sendo entendida como uma experiência através da qual o ser humano tem consciência, partilha, compreende e responde às emoções do outro. Por um lado, empatia tem um componente afetivo – pelo contágio emocional, partilha de experiências e capacitação de entender e sentir o estado mental do outro. Um componente cognitivo que envolve a capacidade de mentalização, ou seja, a capacidade em compreender o comportamento e estado mental (desejos, intenções, necessidades, sentimentos) do próprio e dos outros. Por último, um componente motivacional, definido pela compaixão, preocupação pró-social, em que a pessoa tem em consideração o bem-estar e o sofrimento do outro. Empatia, Relações Humanas e Saúde Mental Uma das características distintas e imperativas dos seres humanos é a sua aptidão para entrar em contacto com o outro através do estabelecimento de uma relação interpessoal, capacidade esta facultada através da empatia. E é esta relação entre sujeitos que permite ao ser humano compreender-se a si e aos outros como pessoas, num mundo sensível, onde sentimentos e pensamentos são compartilháveis. Desta forma, somos impelidos para uma reflexão, como atesta Manganaro, “sobre o mundo circundante comum, sobre a possibilidade da comunicação interpessoal, sobre as múltiplas formas de associação humana, sobre o valor da relação ética e do diálogo”. Falamos sobre a natureza imediata e intencional das relações interpessoais, como significativas na interação dos seres humanos, logo é compreensível a importância que o conceito da empatia se destaque como fundamental no campo da saúde mental e na relevância do seu valor na relação interpessoal nos cuidados e na relação médico-doente. A capacidade humana de interagir com o outro pela empatia é um processo através do qual é possível entender os estados mentais internos de outra pessoa, sem intuir explicações ou causas — como se diz “colocar-se na pele do outro”. Como Edith Stein esclarece, a empatia é “uma ação deliberada de compreensão da alteridade (a diferença) (...) entre a vivência da empatia em si e a tomada de consciência da relação intersubjetiva (entre dois sujeitos) que se desenvolve da vivência empatizada (com o outro), ao ir e vir próprio do cruzamento de vivências (…) que se dá individual e comunitariamente”. Logo é compreensível que, em termos da interação social, a empatia nos possa impelir para o cuidado do outro, para partilhar conhecimento e sabedoria através de um movimento intencional com um propósito concebido para uma comunidade, e que facilita uma maior colaboração e capacidade de adaptação, de conceção social, e, em última análise, um sentimento crescente de bem-estar coletivo. Ver também: - Empatia e Escuta Ativa - Saúde Mental e Preconceito, uma busca por mais empatia - Temos dois ouvidos e uma boca, estamos prontos para a escuta ativa! Juntos pela Saúde Mental de Todos Nós ManifestaMente, Sandra Maria Teles do Nascimento Comments are closed.
|
Categorias
Tudo
Histórico
Setembro 2024
|